domingo, dezembro 12

Novos tempos, velhos costumes

Uma análise de poesia italiana: La salubrità dell’aria, de Giuseppe Parini. Mais palúrdio seria impossível: um poeta com pretenções a sanitarista. Um misto de Olavo Bilac e Osvaldo Cruz. Um quarto em eterno caos organizado; pilhas de folhas e de livros espalhadas; os livros não cabem mais na estante e agora fornicam e procriam em pilhas espalhadas pelo quarto. Sempre com o mesmo olor de ambiente fechado; a janela gradeada que dá para o imenso varco. Segundo o portal do governo ucraniano, a bandeira da Ucrânia, composta de duas faixas horizontais d’igual tamanho, amarela a inferior e azul-celeste a superior, representa os campos de trigo abundantes e o céu. Se por acaso aqui houvesse uma bandeira especial, seria azul na faixa superior também e abóbora pelas centenas de telhados justapostos.
É sempre melancólico olhar pela janela do quarto, voltada para o Oriente; o sol penetra logo cedo, pelas frestas da persiana; mesmo qu’eu não queira, o dia vem. Impávido, colossal e soberano. A mim, toca levantar, assim como é certo que o sol nascerá, é certo qu’eu levante a ir trabalhar. A minha cadeira está lá, a me esperar; igualmente almejam a minha presença os meus carimbos, os meus correntistas, meus terrores. Navegar é preciso; mas nunca andei em outro veículo que não tivesse rodas. E destas graças, nasce a minha angústia. Tropas sardas e galinhas-verdes liliputianos trafegam pelo chão do quarto; e pelo ar voa uma melancólica melodia de piano. Seria Chopin?

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Os ausentes são mortos temporários. Esta última quinta, uma amiga ressurgiu do nada; ressurrexit sicut non dixit. Um telefonema e quase quatro anos de distância; certo que alternamos ausência e presenças depois qu’ela mudou de perto de casa para um outro bairro; mas nunca tinha ficado tanto tempo ausente. Sinceramente, não esperava ter mais notícias suas; há algumas semanas, encontrei Godói, um vizinho, e conhecido comum. Recoradávamos dos tempos do Ginásio e ele disparou à queima-roupa que a vira no Tatuapé, derradeira morada da qual tinha-eu notícia. Aliviei-me, afinal, ela ainda existia. A lembrança, como um tição de fogueira acendeu-se, mas rapidamente pela humidade do quotidiano arrefeceu. Mas, eis que quinta-feira à noite, quando cheguei a casa, tarde da noite, sobre a minha mesinha, um recado com a caligrafia da minha mãe. Ora, um sinal de vida, como se fosse em Berlim e tivesse vindo do outro lado do muro, um muro dos seus problemas familiares, que as vezes agem como os Vopos. Ou ela pulou o muro ou o muro caiu.
* * *
Ciao, Aïda! Ci rivediamo un giorno, chissà. Voglio veder la tua faccia da bigotta entro venti anni, quanto che la Chiesa non ti avrà chiesto... ed io t’amavo e non ho cobrato un niente dal mio amore, che non è l’amore disperso e prostituto, mosso dal denaro, dai quattrini dentro la cassa dell’elemosina: per Sant’Antonio, per le anime, per la Madonna, Santa Vergine! La tua Chiesa, il tuo panteone di santi e sante, le tue ostie, il tuo vino - o forse sumo di uve? La tua condanna alle bibite alcooliche, inutile e bigotta resistenza. Adesso, non mi resta che piangere un po’; per accidente, m’hai lasciato un’indelebile marca sul cuor e ci sarà ancora un po’ di tempo da che se ne vada.
Non ti resta che smuoversi nervosa sulla tua sedia, forse stia nervosa. Io, di su, quassù, sulla nuova nave che mi porterà non so dove, ti lascio sulla spiaggia del vecchio continente che ho costruito per noi; adesso a me, tocca andare. La sventolante bandiera della nave è nera, perché non appartiene a patria nessuna; è nera come sono i tuoi capelli quand’eran lunghi. Ho pianto di più per te, ma le mie lacrime non sono infinite, ci son nuovi orizzonti da varcare, io sulla nave.
Fermiamoci; adesso, mi tocca andare.
Ciao, Aïda.

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