domingo, fevereiro 6

Problemas hodiernos

Fragmentos de um diário disperso dentro duma bolsa à tiracolo preta.

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O meu problema é que não me conformo com o rumo que toma a Civilização, tornamo-nos - mais do que nunca - uma Civilização usurária e financista, pensa-se somente naquilo que pode trazer lucro. O pior não é exatamente esse estado de coisas, mas também a passividade e a alienação das pessoas frente a tudo isso. Vivem como máquinas: a perspectiva de futuro me angustia profundamente. Tudo se vende, tudo deve ser comprado, e a grei estúpida, moldada e estrangulada submete-se pacificamente.
No passado, o papel da dominação ideológica era da Igreja, passou posteriormente para os Estados Nacionais e hoje pertence ao Capital. Talvez fosse esse estado do Capitalismo contra o qual nos alertavam os teóricos do Socialismo; e, para onde corre tudo isso? A situação actual mostra um horizonte estrangulado; no caso dos bancos - que bem serve a exemplificar - há «x» bancos no dito mercado brasileiro, que vivem a degladiar-se, como nenhum conseguirá jamais impor-se de maneira cabal e definitiva, essa concorrência absurda, ridícula e suicida cuja única coisa que busca é o lucro sem fronteiras e a única coisa que traz pressão e estresse à menor e mais baixa parte do jogo, a base da pirâmide: o funcionário; e não somente o sistema bancário, mas de todo - e cada vez maior e onipresente - setor de serviços, que conseqüentemente vem substituindo as bases da Civilização, usando para isso o ignorantismo, desmotivando que o indivíduo busque elucidar-se e informar-se, entupindo-o de informação fátua e vácua, por isso o avassalador sucesso dos «espetáculos de realidade» (reality shows), programas de auditório aviltantes, esse é o substrato que substituiu a tríade Deus-Pátria-Rei dos séculos anteriores, abalado primeiramente pela Revolução Francesa, excelente inicialmente, mas donde brotou o germe que deu origem à Civilização agioteira actual: a Burguesia; tomando esta o poder, com seu rancor e sua fome de ouro, acabou em três-tempos com os ideais da Revolução, e terminou por reestabelecer o Império Frances em seu favor. Um França inchada jamais vista.
Talvez, para que seja possível um reequilíbrio civilizatório, seja necessário à Civilização um regresso parcial, a volta de um tênue e salutar senso de nacionalismo, por exemplo, para que o indivíduo se sinta novamente parte de um todo, e conseqüentemente um Estado que mantenha isso. Certamente me criticarão pela questão do Estado forte; ela é problemática, pois visto experiências anteriores, pode sair de controle, pois também, por outro lado a dissolução imediata do atual estado-de-coisas, degringolaria para a vigência da «lei do mais forte» tal qual nas eras pré-históricas.
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O modelo actual - principalmente urbano - consiste a atrelar a nossa existência (dedicar até um terço ou mais do dia) não somente à nossa manutenção, mas directamente - e por maior motivo, desta última - da manutenção do Capital alheio; um único empregado pode render num mês cem vezes o salário que lhe é pago sem receber por isso um único centavo a mais, e ao contrário, se pungido a produzir cada vez mais. Outra questão, coagido e preocupado em manter o seu sustento, geralmente cede. E nisto, baseado na famigerada lei da Concorrência pela qual se rege o mercado transforma num círculo vicioso, onde o patrão, por melhores que sejam os resultados somente saberá cobrar, mais e mais, juntando capital às custas do suor alheio. Daí a repugnância que causam «cursos» e pseudociências provindas desse raciocínio de acumulação por fustigação da força de trabalho, como cursos de Administração, os polêmicos cursos de vendas, que visam a espoliação do próximo enganando ambas as partes, o vendedor que acredita estar prestando um serviço ao cliente (nos casos mais ingênuos) e ao cliente que acredita ser beneficiado.
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O estado de eterna concorrência, não somente entre os entes comerciais desenvolvem-se, mas costuma trazer a inimizade e a desunião na parte que justamente deveria unir-se contra a exploração: a massa de funcionários. Acabaram por enxergar o igual por rival que vai tirar o pão da sua boca, mantêm-se em conflito e desunidos, competindo entre si, trazendo mais capital ao empregador. Evidentemente que, se os funcionários esgoelam-se para produzir pelo salário pago, para que novas contratações? o funcionário fustigado pela chibata do patrão e pela concorrência invejosa do colega é altamente lucrativo na actual conjectura.

3 Comentários:

Blogger flogisto_calavera disse...

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domingo, fevereiro 06, 2005 2:01:00 da tarde  
Blogger flogisto_calavera disse...

que tal isso: guerra entre os exércitos de seguranças particulares dos bancos rivais, lutando por territórios/clientes. a guerra é a expressão máxima do capitalismo.

domingo, fevereiro 06, 2005 2:02:00 da tarde  
Blogger Jeferson Ferreira disse...

Até hoje eu não o que dizer sobre o socialismo. Doutrina amplamente materialista, mas que atingiu um alto de nível de profetização da nossa sociedade e economia.

domingo, fevereiro 06, 2005 4:22:00 da tarde  

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