segunda-feira, março 21

Os meus anos 1980

Vê, como passa o tempo. Vê, como te pungem as lembranças, como se fossem alfinetes, as mais sutis e como facadas as mais doloridas. Pontadas pelo corpo todo. Lembrança dum tempo antigo, no qual as tardes ainda eram livres e o sol punha-se tingindo o céu dum denso fulvo. Que os merídios tinham sol a pino, fulminando as formigas, mas o céu era azul. Vê, as lembranças dos dias cinzentos de chuva, vistos por detrás da janela da sala. Desenhos com hidrocor e giz de cera. Calendários de escritório abóbora, giratórios, em italiano. Missas, recomendações para a sexta-santa, quermesses; um tempo que não volta mais. Hoje as tecnologias tiram a graça a tudo, havia os Correios, esperava eu as cartas, envelopes imensos; telefone era coisas para os outros, celular, somente as membranas das aulas de Ciências. Quarta-feira era dia de hastear a bandeira e cantar o Hino Nacional. Nem o Hino Nacional de canta mais. Chapéus de jornal, espadas do mesmo material. Bigodes de guache. Fitas verde-e-amarelas de papel crepom. Domingo, o cheiro de molho levantava vôo por dentre as casas, no céu azul do domingo. Manjericão, jogo de futebol, visita à vó. Bolos, bolachinhas caseiras, conversas recheadas de sotaque doutros povos, histórias do Velho Mundo. Sonhos d’Europa. Discos de vinil com boleros, passodobles. Histórias duns bons tempos.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Ah, o velho mundo, caro conde! Ainda lembraremos, saudosos, destes dias que correm.

terça-feira, março 22, 2005 1:52:00 da manhã  
Blogger Unknown disse...

saudades, saudades
quisera eu voltar no tempo somente um instante para comer os bolinhos de chuva da minha avó, passados ainda muito quentes no açucar e na canela, despejados numa tigela onde me pareciam um sem fim de bolinhos, que não acabariam nunca...

terça-feira, março 22, 2005 12:24:00 da tarde  

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