segunda-feira, abril 11

Dos ovos e da religião

Almoço de domingo, o medonho risoto recendia àquilo que realmente é, uma bela miscelânea indigesta. Fazer o que? Era o que tinha e eu não iria sair para comer às 3 horas da tarde de domingo. Como de costume, apesar de não ter aberto a boca, a minha expressividade facial (como diria a Profa. Giliola) denunciou-me.
— Não precisa se preocupar… não tem ovo. – alertou a minha solícita genitora.
Uma das minhas ancestrais ojerizas. Detesto ovo, ainda mais se for cozido, formato mais adequado para um risoto.
— Não sei porque você não gosto de ovo – retrucou meu pai – ovo vai em tudo.
Pronto; estava armado o circo, a velha catilinária a favor dos ovos. O ovo que vai na massa do macarrão, que vai no bolo, que vai no diabo a quatro! Ovo, para mim, é uma das coisas mais repugnantes que existem; e até o meu Ginásio considerava a maior ofensa ser atingido por ovos no dia do aniversário.
— E quindim, você gosta? – perguntou a minha mãe.
— Odeio.
— Fio-de-ovos? Pastel-de-Santa-Clara?
— Doces portugueses são todos de ovos! Eu odeio…
Uma vez, liguei a televisão, na manhã de uma sexta desempregada e um programa de culinária ensinava a fazer uma torta portuguesa cujo recheio era nada mais nada menos de ovos-moles com fio-de-ovos. Irritei-me no acto.
A furibunda defesa dos ovos como alimento primordial, base de tudo, feita pelos meus pais irritou-me muito. Bebi mais uma taça de vinho e fui tirar o consueto cochilo dominical.

* * *

À noite, durante o meu jantar de sanduíches (risoto no microondas nem pensar), começou a discutir-se de religião. Queriam provar-me que eu não era ateu.
— Quem tem medalha de santo… de qual santo que você tem medalha?
— São Bento…
— Então; você tem medalhinha de santo; então acredita em alguma coisa…
— Não. O que tem a ver o cós com a calça?
— Não é possível que você não acredita em nada. – escarneceu meu pai.
— Claro que ele acredita! – interveio minha mãe.
— Não, não. – abanei a cabeça.
Então foi a minha vez, rebaixei o clero ao nível dos porcos, citei um poema do Fernando Pessoa no qual o Espírito Santo é uma pomba que suja cadeiras e Deus é um velho emburrado.
— Religião é coisa de atrasados! Podem ver! Os primeiros deus são representações das forças naturais; e apesar de já terem escrito isso, sabe-se-lá-deus-quem, consegui chegar à essa observação sozinho! Porque?! Porque exclusa a carolice e o fanatismo, isso é facilmente visível.
— Mas o Deus católico… - tentou intervir a minha mãe.
— Que Deus católico?! É tudo representação da mesma «força oculta» (fiz um gesto com os dedos, mostrando aspas). Que Deus!
Algumas blasfêmias.
— E mais! O Papa morreu, não morreu? Se o representante de Deus sucumbe, o Cornudo está à solta na face da terra.
Ficaram petrificados. Fui para o quarto.

8 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Ah. ok. e o papa se materializar só pra você não te diz nada não né?

segunda-feira, abril 11, 2005 6:48:00 da tarde  
Blogger flogisto_calavera disse...

aconteceu com vocês também? ontem, de novo, ele estava vestido de branco, mas brilhava mais.

segunda-feira, abril 11, 2005 8:13:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Eu sofro com isso, mas é com cebola...

segunda-feira, abril 11, 2005 9:30:00 da tarde  
Blogger flogisto_calavera disse...

o papa te aparece em forma de cebola? terrível...

terça-feira, abril 12, 2005 12:14:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

cebola tem cheiro de espírito, me disseram.

terça-feira, abril 12, 2005 12:12:00 da tarde  
Blogger flogisto_calavera disse...

mas é cheiro de espírito alemão. o papa era polonês, né. acho que a gente mantém a nacionalidade mesmo depois de morto, quer dizer, em espírito.

terça-feira, abril 12, 2005 1:03:00 da tarde  
Blogger Jeferson Ferreira disse...

... de papa e de ovos, meteram uma cebola... hiiiii... tá parecendo omelete!!!

terça-feira, abril 12, 2005 1:56:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Isso aqui é um blogue sério; não é o sítio do Mais você. As vossas cebolas, os vossos tomates, os vossos alhos que vão para a feira!

terça-feira, abril 12, 2005 3:28:00 da tarde  

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