quinta-feira, maio 26

Somnis perduts / Sonhos perdidos

II

Lá fora o vento como uma voz
monologando entre as frondas, implacável.
Tenho campo e telheiro.
E tenho animais e nomes que fui criando
pelo louco intento de viver em mim.
Tudo se apaga em silêncio nesta noite.
Pela ilha inteira eu me sinto a mim mesmo
semelho deserto onde as dunas se alisam
desfazendo o engenho das miragens minhas.
Não me peçais que diga o quanto hei lutado,
nem por que fui feliz ao poder contar,
feitas num pau, incisões marcando os dias.
Entre esses talhos o tempo me venceu
sem um diálogo. Este fogo mutável
vai-me esclarecendo a história do deserto
em meu âmago. Para um homem somente
há esse caminho que volta sempre ao fundo
solitário da alma, e onde se perde
toda pergunta num vento errante.
Na lomba do tempo já criei figuras,
nomes, mudas inscrições de um cemitério.
Restam apenas as letras do meu nome
com um ouro que se apaga, no arenal
entregue sem defesa ao vir das ondadas.

(II

A fora el vent com una veu
monologant implacable entre els arbres.
Tinc un camp i un cobert.
Tinc animals i noms que he anat creant
pel foll intent de viure’m.
Tot s’apaga en el silenci aquesta nit.
Arreu de l’illa em sento a mi mateix
com un desert on les dunes s’allisen
per a esborrar l’enginy dels meus miratges.
No em demaneu com és que he lluitat tant,
ni per què era feliç podent comptar
incisions dels dies sobre un pal.
Entre les osques m’ha vençut el temps
sense diàleg. Aquest foc mudable
em va aclarint la història del desert
que duc a dins. Per a un home tan sols
hi ha aquell camí que sempre torna al fons
solitari de l’ànima, on es perd
tota pregunta en un gran vent que passa.
Al llom del temps he creat noms, figures,
mudes inscripcions d’un cementiri.
Resten només les lletres, en el sorral
lliurat sense defensa a les onades.)

Francesc Faus

Fragmento de Vent nocturn sobre l’illa (Vento noturno sobre a ilha), do livro La roda i el vent (A roda e o vento), traduzido do catalão por Stella Leonardos.

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