quarta-feira, agosto 31

Disperso e asperso

  • Cheguei péssimo em casa ontem, com uma imensa má-impressão. Mas acordei de-manhã, hoje, totalmente vazio. A pós-modernidade me funciona como uma lavagem intestinal; a realidade me dá uma náusea descomunal e não há sal-de-frutas em quantidade suficiente.
  • Tenho uma conclusão sobre mim mesmo (que coisa mais pleonástica e pedante): sou muito mais simpático escrito; a versão ao-vivo deixa muito a desejar.
  • Estou revendo conceitos e possibilidades. Talvez uma Renascença; a busca de factos e valores, retornando um ou dois anos no tempo.
  • Eu gostaria que dessem - ou tentassem dar - um putsch em cima do Efelentíffimo Molusco, assim, aproveitava o Estado de Sítio e tirava umas férias duns dez ou quinze dias. Desde que não fizessem barricadas na porta de casa, evidentemente.
  • Somente seria eu a favor à volta dos militares, se eles decretassem o catalão língua oficial do país e rompessem relações com a Espanha. Em tancas la porta on vaig entrar!
  • Eu daria um ótimo adereço de jardim japonês: ou uma pedra branca ou um bonsai.
  • Uns viram barata; eu adoto Barcelona e me torno catalão de cor.

terça-feira, agosto 30

Constatações

— Não se faça de vítima! Pára com isso!
— Mas eu so’ uma vítima…
— Ai, ai!…
— Eu so’ uma vítima de mim mesmo.

segunda-feira, agosto 29

Històries de taula - Histórias de mesa -

Ascultat en una taula plé de convives, l’ùltim dijous:
«— I aquesta cosa de cambiar els terms és massa intrigant: el pitor que ha dipingut la meva casa parlava amb meu pare. Quants gallons de tinta sarïan necessàrios… i totas aquestas cosas. D’improvis, el pitor s’ha volgut al meu pare i disse: «és necessàri també daquels vinagrinhos». «Vinagrinhos?»… restaran tots els dos en silènci. I sabes lo que era? Eran aquellas bisnaguinhas de colorir la tinta, pou xadrez que s’en dilui en l’àigua.» (1)

Escutado em uma mesa cheia de convivas, na última quinta:
«— Essa coisa de trocar termos é intrigante; outro dia, o pintor que pintou a minha casa conversava com o meu pai. Quantas latas de tinta seriam necessárias… e todas essas coisas. De repente, o pintor voltou-se prò meu pai e disse: «precisa também daqueles vinagrinhos». «Vinagrinhos?»… ficaram os dois em silêncio. E sabe o que era? Eram aquelas bisnaguinhas de tingir a tinta, pó xadrez que se dilui na água…»

(1) se’n fa un petit adendo que el català que se’n trova en aquesta pàgina no és el català padró, però una base català amb un poc de italià, espanyol i portugués mescolat. Si pot creure que 60% sigui català, però els estùdies portaran nosaltres a un percentatge major. Si pot diure que és una espècie de interllengua que se’n criat en la gola del autor. El motivo, aixó menyspreus.

(1) Faz-se um pequeno adendo de que o catalão tal-qual se encontra nesta página não é o catalão padrão, mas sim uma base catalã com um pouco de italiano, espanhol e português misturados. Acredita-se que 60% seja catalão, porém, os estudos logo nos levarão a uma porcentagem maior. Pode-se dizer que é uma espécie de interlíngua que se criou na garganta do autor. Os motivos, talvez desgostos.

domingo, agosto 28

Quan una llengua no és més suficient

I jo em sento mal, i sento que no tinc més força, i fa massa temps el temps del Col.lègi. Ara sento que no tinc força de suportar tot lo que em succede, a una velocitat incontrol.lable. I ara son les pedres que cambian lloc, i les persones que cambian paraules, i cambian tant les gests. I tot que s’em gira, en un vòrtiç, on volan les falçs. I, per jo, no càmbia res. Tot càmbia e vull cambiar; i va cambiar, amb per que la meva voluntat, qu’és sempre mutable - però tot es ferma, s’estanca; com aquestes terriblesm paraules en català, escrites per un ome trepitjant de somni.
Ara que tinc voluntat de prendre aquella dona, el seu hàlit suau, i mirar els seus ulls plens duna dolça malinconia; i aquells seus capel.ls, seu bell corp, com s’en fosse tallat per les eines del maestre Miquelàngel, tota ella, una perfecció.
I jo, que tinc encara vint anys, però em pare d’haver quarente. Pare que tot aquí finisca, i finisca en un estrany i dolç torpor mental.

* * *

Serà a penas un dèbil llum; més dic que qualsevol cosa m’ha il.luminat el cor, absolutament d’improvis. Reaccións inesperades, e-mails curioses. Però ara, aixó temprà per diure qualsevol cosa - en qualsevol temps i qualsevol lloc. Camps de blat! Neus-vells camps de blat. Finalment l’alba, la matinada.

sexta-feira, agosto 26

Um dia

Quando eu ficar velho, meus sobrinhos me colocarão num asilo.

quinta-feira, agosto 25

Música popular

Mais uma da série «Destruindo mitos»; o mito a ser quebrado hoje é aquele que diz a música popular brasileira é a melhor do mundo. Falam isso por desconhecimento puro e completo do que se passa lá fora, coisas de qualidade nitidamente superior:

Fabrizio De André,
Joan Manuel Serrat e
Lluís Llach (escute aqui).

quarta-feira, agosto 24

Pequenos-grandes problemas

— E então, Doutor, o que eu tenho?
— Nada grave, mas crônico… o senhor está com a síndrome da indolência soviética, doença típica de burocratas…
Saiu detrás da cortina uma fanfarra militar e começaram a tocar uma marcha, enquanto o paciente jazia no divã do médico. Vários minutos. Dormiu.

segunda-feira, agosto 22

Pompa e circunstância

Levantamos todos para ouvir o hino nacional, logo após – evidentemente – da execução do hino da União, como todo dia antes do trabalho, e cantá-lo, obviamente. Todos de pé, por detrás das divisórias; mão no peito.
O Director pôs o disco na vitrola e posicionou-se do lado do aparelho, com a mão sobre o peito. Chiadinhos.
Moldova Sovietică, plaiul nostru’n floare… - começaram todos.
O diretor, agarrou estranhamente o colete, como se quisesse arrancá-lo.
Alături de alte republici surori. – continuamos.
O diretor ajoelhou-se. Uma das moças, começou a chorar de ardor cívico; estava visivelmente emocionada.
Păşeşte împreună cu Rusia mare…
Ele finalmente desequilibrou-se e caiu de cara no assoalho.
Spre al Uniunii senin viitor.
Beijou o solo, que emoção. Entrou o refrão:
Doina înfrăţirii proslăveşte Ţara,…
Ninguém se mexeu até o final do acto solene.
Înalţă-l prin fapte pentru fericirea ta! – acordes finais.
Só então perceberam os funcionário que o Director da repartição havia caído fulminado por uma ataque cardíaco.

sábado, agosto 20

Em direção ao sul

Em algum lugar da Alemanha, próximo da fronteira com a Áustria, vem pela estradinha um homem a pé, com as mãos no bolso, distraído; quando junto dele, pára um homem, outro, fardado, montado num elefante. Fardado e de bigodinho, interpelou o que vinha a pé:
- Entschuldigung, meu bom homem - começou o do bigode, de cima do elefante - é esse o caminho que leva à Áustria?
O homem que vinha a pé, olhou, para fixar na vista aquele homem baixinho, de bigode e fardado sobre o elefante, e olhando-o, começou a explicar:
- Sim, sim. Se o senhor for reto, por essa estrada, vai sair numa maior, que é a estrada que leva até a fronteira; do outro lado é Salzburgo.
O homem do elefante escutou atentamente, tendo, nesse meio tempo, tirado o cabelo liso da testa insistentemente umas duas ou três vezes. Por fim, disse:
- Ja, ja! Como pude me esquecer?! - sorriu - Ich danke!
- Bitte! - respondeu o homem que caminhava.
O elefante retomou seu passo, deixando o homem que ia a pé para trás, mas iam os dois na mesma direção. Olhando o elefante distanciar-se, de-improviso, o homem que ia a pé levou uma das mãos à testa:
- Mein Gott! - assustou-se - Ele voltou! - pôs-se a correr para o lado de onde havia vindo berrando que não-sei-quem tinha voltado.

sexta-feira, agosto 19

Utilidade pública

Pelos nossos endereços telegráficos, colocámos à disposição do público um novo serviço de utilidade pública (convenientemente os números serão introduzidos nas contra-capas das listas telefônicas): Real Serviço Venardo de Flato-eructomancia.

É o Governo Venardo sempre trabalhando pelo cidadão.

quinta-feira, agosto 18

Ascensão e queda da burocracia

«Fecharam-se os escritórios: há dois dias não havia água, e o refugium-peccatoribus dos burocratas. o banheiro, estava insuportavelmente fétido.»

De Diários Burocráticos, capital fechado.

Estratégia militar e culinária

É fácil esvaziar uma colônia israelense, dessas que o Governo israelense tem de desocupar na faixa de Gaza: é só pedir para a Força Aérea Cipriota bombardear as colônias resistentes com peças de toicinho defumado.
Voilà!

quarta-feira, agosto 17

Intra lo martello et la incudine ovvero ’l terzo huomo de la Repubblica

«Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.» - da Constituição Federal de 1988, negrito nosso.

Todos já o sabemos, se cai o nosso hirsuto Savonarola, certamente cairá também o apático e moribundo vice-presidente, cuja figura somente serve a espantar as moscas durante as longuíssimas reuniões ministeriais – assim as imagino, pelo menos – e servir de ministro-placebo na pasta da Defesa – mas ele ainda a ocupa?
O problema é: caídos os dois, segundo meus cálculos – corrijam-me se estiver eu emborcando em tremendo erro – o terceiro na linha sucessória é, como nos informa o artigo 80 da nossa Magna Carta, o Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcante.
Convenhámos que a possibilidade é no mínimo assustadora; ruim com o Excelentíssimo Molusco, pior ainda será com o Excelentíssimo Cacto, não porque ele venha do Agreste Setentrional (1), mas sim porque é arrivista de pai e mãe, retrógrado, filhote da escória oligárquica que pulula, verminosamente naquelas veredas – desculpai-me, mas é facto. Tantos outros celerados caudilhescos que provêm da pobre Região – como se não bastasse a seca – que não se faz necessário citá-los.
Bem que, hoje partido – leia-se com princípios ideológicos – é um conceito morto, enterrado e cuja missa de sétimo dia já passou há muito tempo; o Excelentíssimo Severino pertence ao PP (Partido Progressista), partido que, embora a memória da choldra seja curta, é herdeiro ideológico (talvez nas persistências de querer o poder) da Arena (Aliança Renovadora Nacional), o braço político do Regime Militar; não só o PP (que agrega próceres dos anos de chumbo como o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf e o ex-ministro da Fazenda de pelo menos dois governos militares, Delfim Netto), mas também o PFL (qual «Frente Liberal»?); gente que hoje posa de bom-moço, mas fez das suas, ou melhor, souberam aproveitar bem o momento à custa dum regime autoritário. E essa gente, que deveria ter sido varrida pelo voto, ao contrário, continua aí: deputados, senadores. Apesar do passado mais-que-comprometedor, eles continuam aí.
Resumindo: reclama-se da bandalheira, da imundície toda, mas, que é que os coloca lá? Se não é o divino e excelso voto dos gregários eleitores? Que seria dos nossos amados homens públicos se não fosse o senso de democracia imbuído na nossa gente, que com satisfação, toda eleição – sem falta, veja bem! – toda eleição está lá, não mais para pôr o voto na urna, mas para digitar o número do tão escolhido e esquadrinhado candidato.
Moral da história: cada povo tem o que merece; o que é bom e instrutivo.

(1) a expressão foi usada na tribuna da Câmara por um parlamentar da Região durante a solenidade de posse do Presidente Lula.

sexta-feira, agosto 12

Cara-lisa desavergonhada e desbraguilhada

Admito o pecado mortal (segundo os intelectualóides de esquerda):
«— ¡Sou eurocentrista sim! ¿Não gostou? Parte pra cima, então… »

¡¿Cultura nacional?! ¿Qual cultura nacional? ¿Esses batuques e oloduns da vida? Como diz um caro amigo, onde entra a percussão, entra junto a decadência. Nossa cultura nacional é uma cultura botequeira de quem conta vantagem, o maior isso, o maior aquilo, o maior diabo-a-quatro, o maior raio-que-vos-parta. Esse país onde a «cultura» (¡e asperjam-se aspas!) não é nada mais que a odiosa e repugnante cultura de massa. Eu já mandei o meu senso de nacionalidade prò Inferno há muito, por isso, não me venham com patriotadas baratas; se estiverem com fome, comam a bandeira, ou pintem um cachorro de verde-e-amarelo antes de assá-lo, pelo bem da Pátria. Acordem, somos um Portugal imenso e mal-fadado.
Se tivéssemos cultura nacional de verdade seria outra história; mas para isso, deveríamos ter sido descobertos pelo menos uns seiscentos anos antes da data consagrada de abril.

quinta-feira, agosto 11

Recurso: autocompletar

Escrito num dos muros citadinos: Deus é fiel; logo abaixo: a sua vida conjugal é problema seu, cristão pederasta!

terça-feira, agosto 9

Cognomes que a História apagou

Imperador Rômulo Augústulo, o Pústula.

segunda-feira, agosto 8

«— Um vermífugo, por favor!»

De vez em quando, alguém olhando por de-baixo do tapete, acha gravações de pérolas desta magnitude:

As praias do Brasil ensolaradas,
O chão onde o país se elevou,
A mão de Deus abençoou,
Mulher que nasce aqui tem muito mais amor.

O céu do meu Brasil tem mais estrelas.
O sol do meu país, mais esplendor.
A mão de Deus abençoou,
Em terras brasileiras vou plantar amor.

Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!
Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil.
Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!
Ninguém segura a juventude do Brasil.

As tardes do Brasil são mais douradas.
Mulatas brotam cheias de calor.
A mão de Deus abençoou,
Eu vou ficar aqui, porque existe amor.

No carnaval, os gringos querem vê-las,
No colossal desfile multicor.
A mão de Deus abençoou,
Em terras brasileiras vou plantar amor.

Adoro meu Brasil de madrugada,
Nas horas que estou com meu amor.
A mão de Deus abençoou,
A minha amada vai comigo aonde eu for.

As noites do Brasil têm mais beleza.
A hora chora de tristeza e dor,
Porque a natureza sopra
E ela vai-se embora, enquanto eu planto amor.

(Don e Ravel, uma dupla de questionável qualidade)

Para quem não lembra, essa música foi usada pelo Regime Militar como propaganda, junto com aqueles motes baratos e acontecimentos exaltados à náusea: Brasil, ame-o ou deixe-o, o Sesquicentenário da Independência, A taça do mundo é nossa, Noventa milhões de habitantes, prà frente, Brasil! / Salve a seleção!. Os nossos anos 1970, o nossos generais-de-pijama (leia-se bem: de pijama hoje, com aspecto venerando de velhinhos inofensivos).

quinta-feira, agosto 4

Compêndio de História Delirante (adendo)

No século V, o Império Romano foi devastado por diversas hordas de bárbaros: os godos, os hunos, os ostrogodos, os visigodos, os corinthianos e os palmeirenses. De todos esses bárbaros, os mais violentos eram os dois últimos, que ao contrário dos listados, não se distinguiam pela etnia, eram ligados mas por um culto campal, reunindo todas as etnias.

São extremamente barulhentos e destruidores; tanto que a versão mais correta da morte de Rômulo Agústulo, último imperador do Ocidente é de que ele teria sido macerado a pancadas quando descia do metrô por indivíduos dessas tribos.

Como?