quarta-feira, agosto 17

Intra lo martello et la incudine ovvero ’l terzo huomo de la Repubblica

«Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.» - da Constituição Federal de 1988, negrito nosso.

Todos já o sabemos, se cai o nosso hirsuto Savonarola, certamente cairá também o apático e moribundo vice-presidente, cuja figura somente serve a espantar as moscas durante as longuíssimas reuniões ministeriais – assim as imagino, pelo menos – e servir de ministro-placebo na pasta da Defesa – mas ele ainda a ocupa?
O problema é: caídos os dois, segundo meus cálculos – corrijam-me se estiver eu emborcando em tremendo erro – o terceiro na linha sucessória é, como nos informa o artigo 80 da nossa Magna Carta, o Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcante.
Convenhámos que a possibilidade é no mínimo assustadora; ruim com o Excelentíssimo Molusco, pior ainda será com o Excelentíssimo Cacto, não porque ele venha do Agreste Setentrional (1), mas sim porque é arrivista de pai e mãe, retrógrado, filhote da escória oligárquica que pulula, verminosamente naquelas veredas – desculpai-me, mas é facto. Tantos outros celerados caudilhescos que provêm da pobre Região – como se não bastasse a seca – que não se faz necessário citá-los.
Bem que, hoje partido – leia-se com princípios ideológicos – é um conceito morto, enterrado e cuja missa de sétimo dia já passou há muito tempo; o Excelentíssimo Severino pertence ao PP (Partido Progressista), partido que, embora a memória da choldra seja curta, é herdeiro ideológico (talvez nas persistências de querer o poder) da Arena (Aliança Renovadora Nacional), o braço político do Regime Militar; não só o PP (que agrega próceres dos anos de chumbo como o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf e o ex-ministro da Fazenda de pelo menos dois governos militares, Delfim Netto), mas também o PFL (qual «Frente Liberal»?); gente que hoje posa de bom-moço, mas fez das suas, ou melhor, souberam aproveitar bem o momento à custa dum regime autoritário. E essa gente, que deveria ter sido varrida pelo voto, ao contrário, continua aí: deputados, senadores. Apesar do passado mais-que-comprometedor, eles continuam aí.
Resumindo: reclama-se da bandalheira, da imundície toda, mas, que é que os coloca lá? Se não é o divino e excelso voto dos gregários eleitores? Que seria dos nossos amados homens públicos se não fosse o senso de democracia imbuído na nossa gente, que com satisfação, toda eleição – sem falta, veja bem! – toda eleição está lá, não mais para pôr o voto na urna, mas para digitar o número do tão escolhido e esquadrinhado candidato.
Moral da história: cada povo tem o que merece; o que é bom e instrutivo.

(1) a expressão foi usada na tribuna da Câmara por um parlamentar da Região durante a solenidade de posse do Presidente Lula.

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