quarta-feira, novembro 2

210. Os Conquistadores

Lá vais tu caravela lá vais
e a mão que ainda me acena do cais
dará a esta outra mão a coragem,
de em frente em frente seguir viagem.

Será que existe mesmo o levante?
Ando às ordens do nosso infante
e cá vou fazendo os possíveis.

Ó, ei! deita a mão a este remo!
Além são só paragens do demo.
Quem sabe é só um abismo suspenso
só vendo mas o nevoeiro é denso

Será que existe mesmo o levante?...

Mas parai! trago notícias horríveis!
Parai com tudo!
Já avisto os nossos conquistadores,

Vêm num bote de madeira talhado em caravela,
com um soldado de madeira a fazer de sentinela,
com uma espada de madeira proferindo sentenças
enterrada que ela foi no coração doutras crenças.
Enterrada que ela foi sua sombra era uma cruz,
exigindo aos que morriam que gritassem: Jesus!
Com um caixilho de madeira imortalizando o saque
colorindo na vitória as armas brancas do ataque.
Até que povos massacrados foram dizendo: Basta!
Até que a mesa do comércio ainda posta e já gasta
acabou como jangada para evacuar fugitivos
da fogueira incendiada pelos outrora cativos
e debandou à nossa costa a transbordar de remorsos,
mas a rejeitar a culpa e ainda a pedir reforços.

(Letra e música: Sérgio Godinho)

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