terça-feira, novembro 29

224. Da série «gente-boa»: Nicolae Ceauşescu

Camarada Nicolae Ceauşescu - Secretário-geral do Partido Comunista Romeno e Presidente da República Socialista da Romênia. Era tão gente-boa que terminou fuzilado.

quinta-feira, novembro 24

223. A Estupidez

Uma manhã de primavera, ensolarada e colorida – mas isso se presume, porque o recinto não tinha janelas, somente uns hediondos postigos, lá em cima, junto do teto. Fecham o ambiente mesas de madeira escura, povoadas por máquinas de escrever; atrás de cada mesa e cada máquina, eventualmente um funcionário, as cadeiras vazias – se devidamente paramentada com uma blusa ou um suéter, indicam que seu titular está por perto, às vezes não tão perto.

Entra pelo corredor central um homenzinho de casaco e com aspecto tísico, no mínimo gripado. Vem com uma pasta de protocolado na mão, embora não parecesse conhecido, ou seja, não era funcionário da repartição. Ficou parado uns bons cinco minutos, enquanto os funcionários sincronizavam sua respiração e seus suspiros com o ritmo dos tipos batendo no carro da máquina.

No fundo da sala – talvez preso pelo calor que se elevava lentamente com o decorrer dos minutos e o sol que vinha mais forte sobre o telhado, oculto somente pelo forro de estuque - no fundo da sala, o retrato oficial do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, naquele retrato oficial, sonolentíssimo.

Depois dos cinco minutos, um dos funcionários despertou do sono onde o havia jogado os hipnóticos estalidos das máquinas de escrever. Levantou as vistas do teclado e com os olhos emplastrados de sono e tédio deixou cair da boca um «Sim?» para o inesperado visitante, um «sim» que caiu no chão e saiu quicando; tanto que o tísico teve de fazer um olhar de dúvida e inclinar ligeiramente a cabeça, como quem faz para ouvir melhor. Já um pouco mais desperto e com as mãos fora das teclas, cabeça erguida – antes de olhar o rosto do visitante, olhou de soslaio, assustado para o retrato do Presidente, que com o olhar frio e plácido, parecia reprová-lo. Olhou novamente para o desconhecido. «Sim?»; «Boa tarde,» fez o homem juntando as mãos «eu vim trazer esta petição». «Sim, sim; talvez o senhor tenha vindo ao lugar certo; vejamos». O homem lhe entregou a pastinha como o padre que entrega a hóstia. O profanador começou a escarafunchar o processo, pegou um lápis – pegou um lápis! – e fez círculos em alguns ofícios e os esquadrinhava com a vista; suas íris corriam destras por trás das lentes dos óculos. O tísico resumia suas reações a um leve arquejar de sobrancelhas e dilatações das narinas. Mais uns minutos de criteriosa averiguação e mais algumas circuladas a lápis, o funcionário soltou: «está tudo em ordem, só preciso que o senhor me traga uma cópia fotostática mais nítida da sua carteira de identidade»; o homem pensou em reagir, mas o funcionário, acidentalmente lhe lançou um olhar. «Nas lojas do prédio, do lado da rua do Comércio, tem uma papelaria; o senhor pode tirar a cópia lá; eu aguardo o senhor antes de sair para o almoço». Olhou novamente o retrato do Primeiro Mandatário.

O homem tísico agradeceu, recolheu a pasta como quem recolhia o Santo Sudário e disse que voltava em questão de alguns minutos. O funcionário tirou um pequeno pedaço de compensado da gaveta e começou a lanhá-lo com o extrator de grampos, metodicamente.

Alguns instantes depois, meio-dia cheio – não havia janelas, mas o rumor dos sinos da igreja de São Bartolomeu entrava pela menor fresta que houvesse, e mesmo que não houvesse os sinos, algum diligente funcionário sempre informava: «meio-dia!»; e todos se levantavam quase simultaneamente, entupindo o pequeno corredor, o hall do andar, os elevadores, as escadas, as lanchonetes e as ruas ganhavam um fluxo absurdo de pessoas que queriam – ou pareciam querer – estar todas no mesmo lugar, na mesma hora. Os outros funcionários saíram, mas aquele continuava a lanhar a placa de madeira. Alguns instantes, assoma-se à porta o tísico enrolado no seu casaco. «Obrigado por ter esperado… aqui está o processo e a cópia nova…». Esticou servilmente os dois itens ao funcionário, e a carteira de identidade, um pequeno documento que cabe num bolso, fora aumentado até ocupar toda a área da folha de papel. «Agora está nítido, não?» perguntou o tísico relampejando o olhar. O funcionário olhou para a pasta e para a cópia de paquidérmicas proporções. «Ótimo, ótimo…», e ergueu ao tísico a placa que lanhava: «o que o senhor acha?» numa voz extremamente calma. Era um alto-relevo de Cristo na cruz e no fundo, pequenas figuras à moda de Bosch; o tísico limitou-se a tossir assustado.

quarta-feira, novembro 23

222. O sul também existe

Como alguns já devem ter reparado, a minha inspiração - ou qualquer outra coisa similar - está um pouco em baixa; então, só para que não fiquemos sem nada, vos dedico uma outra tradução de outra música do Serrat, música inclusive, caso eu rodasse um dia um filme sobre a Cidade de São Paulo, eu usaria na abertura, traduzida, mas com o mesmo instrumental. A música pertence ao álbum de mesmo nome, lançado em 1985.
Também faço a indicação de um dos mais completos dicionários de língua espanhola: nada mais, nada menos que o notório e completíssimo Diccionário de la Real Académia Española, na sua versão virtal.

(letra de Mário Benedetti e música de J. M. Serrat) - original abaixo.

Com seu cerimonial de aço
suas grandes chaminés
seus sábios clandestinos
seus discursos grandiloqüentes
seu firmamento de néon
suas vendas natalinas
seu culto de Deus-Pai
e dos galardões
com suas chaves do reino
o Norte é quem ordena

mas aqui embaixo, embaixo,
a fome disponível
recorre ao fruto amargo
do que outros decidem
enquanto o tempo passa
e passam os desfiles
e se fazem outras coisas
que o Norte não proíbe.
Com a sua esperança dura
o Sul também existe.

Com seus predicadores
seus gases que envenenam
sua Escola de Chicago
seus donos de fazenda
com seus trapos de luxo
e seu pobre esqueleto.
Suas defesas bem gastas
seus gastos de defesa.
Com o seu gesto invasor
o Norte é quem ordena.

Mas aqui embaixo, embaixo,
cada um bem escondido
há homens e mulheres
que já não sabem o que colher
aproveitando o sol
e também os eclipses
separando o inútil
e usando o que serve.
Com sua fé veterana
o Sul também existe.

Com seu corno francês
e sua Academia Sueca
seu molho americano
e suas chaves inglesas
com todos os seus mísseis
e suas enciclopédias
sua guerra de galáxias
e sua sanha opulenta
com todos os seus lauréis
o Norte é quem manda.

Mas aqui embaixo, embaixo
perto das raízes,
é onde a memória
nenhuma lembrança omite
e há uns que desmorrem
e há uns que desvivem
e assim todos conseguem
o que era impossível
que todo o mundo saiba
que o Sul,
que o Sul também existe.

El sur tambiém existe

Con su ritual de acero
sus grandes chimeneas
sus sabios clandestinos
su canto de sirena
sus cielos de neón
sus ventas navideñas
su culto de Dios Padre
y de las charreteras
con sus llaves del reino
el Norte es el que ordena

pero aquí abajo, abajo
el hambre disponible
recurre al fruto amargo
de lo que otros deciden
mientras el tiempo pasa
y pasan los desfiles
y se hacen otras cosas
que el Norte no prohibe.
Con su esperanza dura
el Sur también existe.

Con sus predicadores
sus gases que envenenan
su escuela de Chicago
sus dueños de la tierra
con sus trapos de lujo
y su pobre osamenta
sus defensas gastadas
sus gastos de defensa.
Con su gesta invasora
el Norte es el que ordena.

Pero aquí abajo, abajo
cada uno en su escondite
hay hombres y mujeres
que saben a qué asirse
aprovechando el sol
y también los eclipses
apartando lo inútil
y usando lo que sirve.
Con su fe veterana
el Sur también existe.

Con su corno francés
y su academia sueca
su salsa americana
y sus llaves inglesas
con todos sus misiles
y sus enciclopedias
su guerra de galaxias
y su saña opulenta
con todos sus laureles
el Norte es el que ordena.

Pero aquí abajo, abajo
cerca de las raíces
es donde la memoria
ningún recuerdo omite
y hay quienes se desmueren
y hay quienes se desviven
y así entre todos logran
lo que era un imposible
que todo el mundo sepa
que el Sur,
que el Sur también existe.

segunda-feira, novembro 21

221. A tia solteira

La tieta
Letra e música de J.M. Serrat

La despertarà el vent d’un cop als finestrons.
És tan llarg i ample el llit... I són freds els llençols...
Amb els ulls mig tancats, buscarà una altra mà
sense trobar ningú, com ahir, com demà.

La seva soledat és el fidel amant
que coneix el seu cos plec a plec, pam a pam...
Escoltarà el miol d’un gat castrat i vell
que en els seus genolls dorm els llargs vespres d’hivern.

Hi ha un missal adormit damunt la tauleta
i un got d’aigua mig buit quan es lleva la tieta.

Un mirall esquerdat li dirà: «Ja et fas gran.
Com ha passat el temps! Com han volat els anys!
Com somnis de jovent pels carres s’han perdut!
Com s’arruga la pell, com s’ensorren ells ulls!...»

La portera, al seu pas, dibuixarà un somrís:
És l’orgull de qui té algú per escalfar-li el llit.
Cada dia el mateix: agafar l’autobús
per treballar al despatx d’un advocat gandul,
amb qui en altre temps ella es feia l’estreta.
D’això fa tant de temps... Ni ho recorda la tieta.

La que sempre té un plat quan arriba Nadal.
La que no vol ningú si un bon dia pren mal.
La que no té més fills que els fills dels seus germans.
La que diu: «Tot va bé». La que diu: «Tant se val».

I el Diumenge de Rams comprarà al seu fillol
un palmó llarg i blanc i un parell de mitjons
i a l’església tots dos faran com fa el mossèn
i lloaran Jesús que entra a Jerusalem...

Li darà vint durets per obrir una llibreta:
cal estalviar els diners com sempre ha fet la tieta.

I un dia s’ha de morir, més o menys com tothom.
Se l’endurà una grip cap al forat profund.
Llavors ja haurà pagat el nínxol i el taüt,
els salms dels capellans, les misses de difunts

i les flors que seguiran el seu enterrament;
són coses que sovint les oblida la gent,
i fan bonic les flors amb negres draps penjant
i al darrere uns amics, descoberts fa un instant

i una esquela que diu... «Ha mort la senyoreta...
...descansi en pau. AMÉN»... I oblidarem la tieta.

domingo, novembro 20

220. Vabbè, saremo brevi

Temporàriamente fora de serviço.

UN CHIMICO
(F.De Andrè - G.Bentivoglio - N.Piovani)

Solo la morte m’ha portato in collina:
un corpo fra i tanti a dar fosforo all’aria
per bivacchi di fuochi che dicono fatui,
che non lasciano cenere, non sciolgon la brina,
solo la morte mi ha portato in collina.

Da chimico un giorno avevo il potere
di sposar gli elementi a farli reagire,
ma gli uomini mai mi riuscì di capire
perché si combinassero attraverso l’amore,
affidando ad un gioco la gioia e il dolore.

Guardate il sorriso, guardate il colore
come giocan sul viso di chi cerca l’amore:
ma lo stesso sorriso, lo stesso colore
dove sono sul viso di chi ha avuto l’amore,
dove sono sul viso di chi ha avuto l’amore.

Che strano andarsene senza soffrire,
senza un volto di donna da dover ricordare,
ma è forse diverso il vostro morire
voi che uscite all’amore, che cedete all’aprile,
cosa c’è di diverso nel vostro morire.

Primavera non bussa, lei entra sicura,
come il fumo lei penetra in ogni fessura,
ha le labbra di carne, i capelli di grano,
che paura, che voglia che ti prenda per mano,
che paura, che voglia che ti porti lontano.

Ma guardate l’idrogeno tacere nel mare,
guardate l’ossigeno al suo fianco dormire:
soltanto una legge che io riesco a capire
ha potuto sposarli senza farli scoppiare,
soltanto la legge che io riesco a capire.

Fui chimico e no, non mi volli sposare,
non sapevo con chi e chi avrei generato:
son morto in un esperimento sbagliato
proprio come gli idioti che muoion d’amore
e qualcuno dirà che c'è un modo migliore.

sexta-feira, novembro 18

219. Uns bons motivos para se conformar


Uns motivos para se viver bem como se está,

Em paz
(Letra e música de J. M. Serrat)

São belos,
felizes,
maciços,
noturnos,

famosos,
simpáticos,
inúteis
e absurdos.

Destacam,
se afundam,
se torram
ao sol.

Esquiam,
navegam,
se afogam
em álcool.

Têm mais baús,
porém também mais trastes.

Têm mais roupas,
porém também vão a mais lugares.

Em paz.

Têm mais amigos,
porém também mais falsos

e mais segurança,
porém também mais medo.

Têm mais dinheiro,
porém também mais despesas.

Têm mais poder,
porém também mais dores-de-cabeça.

Em paz.

Têm mais de tudo
porém também mais a perder.

O mundo bem pode ser deles,
porém os temos cercados.

Sozinhos,
em duplas,
ou em bando,
o jet.

São moda,
primícia,
e notícia
para cordeiros.

Se operam,
se enfaixam,
viajam
ao redor.

Os mimam,
se rifam
a cavalo
e a pé.

Têm mais standing,
porém também mais rendas

e mais a brilhar
porém também mais a esconder.

Em paz.

Têm mais pecados
porém também mais trouxas.

Têm mais caminho,
porém também mais plano.

Têm mais amantes,
porém também mais chifres.

Têm mais sapatos,
mas também têm dois pés.

Em paz.

Têm mais sobrenomes,
porém também a palmam,

porém, isso sim, depois
de ter vivido como deus.

Em paz.

En paus

Són guapos
feliços,
massissos,
nocturns,

famosos,
simpàtics,
inútils
i absurds.

Destaquen
s'ensorren,
es torren
al sol.

Esquien,
naveguen,
s'ofeguen
d'alcohol.

Tenen més calaixos,
però també més trastos.

Tenen més vestits,
però també van a més llocs.

En paus.

Tenen més amics,
però també més falsos,

i més seguretat,
però també més por.

Tenen més diners,
però també més despeses.

Tenen més poder,
però també més maldecaps.

En paus.

Tenen més de tot,
però també més a perdre.

Potser el món és seu,
però els tenim voltats.

Tots sols,
en parelles
i en estol,
la jet.

Són moda,
primícia
i notícia
per bens.

S'operen.
s'enfaixen,
viatgen
arreu.

Els mimem,
se'ls rifen
a cavall
i a peu.

Tenen més stànding,
però també més rendes

i més a lluir,
però també més a amagar.

En paus.

Tenen més pecats,
però també més penques.

Tenen més camí,
però també més pla.

Tenen més amants,
però també més banyes.

Tenen més sabates,
però també tenen dos peus.

En paus.

Tenen més cognoms,
però també la palmen,

però, això sí, després
d'haver viscut com déu.

quarta-feira, novembro 16

218. Retorno


Mandado e retornado. Um pouco confuso, mas enfim, de volta aos pequenos mundos de concreto e a ser o mesmo náufrago em meio ao rumor ensandecente da Paulópole, à vidinha pequena, tinta com umas cores tomadas ao Serrat: e assim estão as coisas entre São Paulo e mim.
É bem provável que eu continue mais alguns dias extrarrede por afazeres acadêmicos que se acumularam, por acídia braba, por temporária falta de assunto e por outras confusões cefálicas que se me implantaram no cérebro, uns assuntos cortantes e escorregadios. Talvez eu não responda tão logo os vossos correios, nem os vossos comentários. É isso mesmo: fechado para balanço.

Até breve (espero) e um abraço para todos.

sexta-feira, novembro 11

217. Viagem e ausência

Queridos leitores,
Benvolguts lectors,

Ausento-me da Cidade no final-de-semana, segunda e no dia da Proclamação da República, em procura de um pouco de paz, quatro dias longe desta nossa Cidade, covil de loucos e antro de desequilibrados, mas que amo de paixão. Hoje à noite tomo o autocarro, e a previsão de chegada é no meio da madrugada. Via Dutra ou via Fernão, aïnda é uma incógnita. Vou às campanhas de Minas, do sul de Minas Gerais, a São Tomé das Letras, conseqüentemente, não há quem vos escreva no período, ficando todos vocês à deriva.
Um abraço a todos e até quarta-feira próxima.

P. S.: eu havia pensado em redigir um ofício em versos, como chegou a ser cogitado ontem com o Orlando, mas não dá tempo. Os comentários da postagem anterior, respondo-os na volta, e, Miquel, para a tua resposta, como sabes, preciso gastar um pouco mais de tempo -visto que o catalão não é a minha língua mãe-, mas certamente terá réplica.

Novamente, até logo a todos.
I novament, fins a l’altra a tothom.

quarta-feira, novembro 9

216. Engasga, miserável!

Não sei então como é
que o senhor sai por aí,
falando tanta mentira de mim.
...
Eu não sei como é que
nesta comunidade
alguém pode duvidar
de minha moralidade.
(J. M. Serrat, Eu me dou bem com todo o mundo)


Bela fotografia, não é? Dá-me tanta raiva, que tenho ganas de sair dando upas como um cavalo e destruïr umas mesas. Só de raiva. O Canalhíssimo Senhor Ilustríssimo para-as-suas-negas Paulo Salim Maluf, assim que pôs o pé no extra-muros da prisão, sumiram-se todos seus problemas de saúde – nada que três horinhas no Sírio-Libanês não resolvessem – suas lenga-lengas de hipocondríaco e a sua cara de doente, vê-se bem, falácias. Aí está o ex-prefeito de São Paulo, degustando um saudável – e recomendado pelos médicos – pastel de carne moïda e, por recomendação do seu gastro, bebe umas salutares latas de cerveja. É um tapa na cara de todos nós que um notório corrupto desse quilate saia da cadeia.

E para desopilar o fígado, a questão onomástica na Família Real espanhola com o nascimento da infanta Elianor, primogênita de S. A. R., o Príncipe das Astúrias, vista pelo Técnico Lingüístico, do Eines de llengua, numa tradução um pouco precária.

Altres poques coses, com que els lingüistes de TV3 —un col·lectiu desconegut, però amb algun personatge bastant prepotent, diria jo— han decidit que cal dir-li Leonor i no Elionor a la filla dels prínceps espanyols, segons han comentat ara en El Club (TV3), el programa on havien mantingut viva la forma Elionor. M'és ben igual, però els raonaments per a aplicar un nom que contradiu l'estat actual de la llengua es poden explicar per un republicanisme de fons —com comentava algú en la llista Zèfir— que els feia sentir la monarquia com una cosa carrinclona o passada d'època, talment com la forma medieval catalana Leonor; o per un servilisme destinat a l'espanyolització de la llengua. Els dos extrems es toquen, malauradament.

Outras poucas coisas, como que os lingüistas da TV3 — um grupo desconhecido, porém com alguma personalidade bem prepotente, diria eu — decidiram que é necessário chamar Leonor e não Elionor à filha dos príncipes espanhóis, tal-qual comentou-se agora no El Club (TV3), o programa onde haviam mantido viva a forma Elionor. Parece-me similar, porém as razões para aplicar um nome que contradiz o estado actual da língua, podem-se explicar por um republicanismo de base — como comentava alguém na lista Zèfir — que os faça perceber a monarquia como algo provinciano ou antiquado, assim como a forma catalã Leonor, ou por um servilismo destinado à espanholização da língua. Os dois extremos tocam-se, infelizmente.

Federação venarda de Roleta-Russa: colônia sírio-libanesa, clubes de boccia em São Paulo, procurados pela Polícia Federal, agência do Crédite Agricole no Brasil, corrupção endêmica, nepotismo na Prefeitura de São Paulo, cardápio árabe para festas.

terça-feira, novembro 8

215. Eu daqui uns três decênios

Eu me dou bem com todo o mundo
Letra e música de J.M. Serrat
Versão de Santiago Kovadoff

Eu me dou bem mesmo com todo o mundo,
nisso meu pai pode ficar tranqüilo,
ele me confiou o seu dinheiro
e eu me encarrego dos gastos do asilo.

Com a minha mulher quando nos vemos
nunca temos a menor tensão,
ela se encarrega da comida das crianças
e eu lhe dou a mesada pra alimentação.

Não sei então como é
que o senhor sai por aí
falando tanta mentira de mim.

Meu patrão nunca tem queixa nenhuma
o que ele diz é o meu pensamento,
sempre disfarço as suas mentiras
e ele me arranja mais um aumento.

Aos subordinados eu sei tratar
com a mão esquerda, os chamo camaradas.
Eles vão dizendo que eu sou muito legal
e em troca, não me pedem nunca nada.

Não me entra na cabeça,
isto é mesmo o fim!
o que escrevem no banheiro sobre mim.

Eu me dou bem com as autoridades.
Jamais com elas uso nomes duros.
Eu lhes aceito suas barbaridades
e elas tomam conta dos meus juros.

E nas questões espirituais
com as batinas a relação é fraterna
eu financio seus bens temporais
e elas tramitam minha salvação eterna.

Eu não sei como é que
nesta comunidade
alguém pode duvidar
de minha moralidade.

Yo me manejo bien con todo el mundo
Letra e música de J.M. Serrat

Yo me manejo bien con todo el mundo,
en eso mi padre puede estar tranquilo:
él me ha dejado en vida sus ahorros
y yo corro con los gastos del asilo.

Con mi mujer, cuando nos vemos, nunca
tenemos el más mínimo conflicto:
ella se ocupa de alimentarme los niños
y yo le paso un tanto al mes por los servicios.

No sé a qué viene, portera, que vaya usted por ahí
contando esas groserías de mí,

que al jefe siempre estoy listo a servirlo,
lo que me dice coincide con lo que pienso,
le tapo sus chapuzas, le presto mi piso
y él me recomienda para un ascenso.

A los subordinados sé tratarlos
con mano izquierda, les llamo camaradas,
ellos pregonan que soy muy campechano
y a cambio no me piden nunca nada.

No me cabe en la cabeza lo que llegan a escribir
en las paredes del retrete de mí,

que me llevo bien con las autoridades,
jamás les llamo con nombres soeces,
yo les consiento sus barbaridades
y ellos se cuidan de mis intereses.

En las cuestiones espirituales,
con las sotanas me entiendo de perlas,
yo les financio sus bienes temporales
y ellos tramitan mi salvación eterna.

No sé cómo hay quien se atreve en esta comunidad
a poner en duda mi moralidad.

domingo, novembro 6

214. Novas Finisseptimanais

Comprai, comprai tudo!

Natal

É espantosa a antecedência com a qual os centros de compra (leia-se por shopping centers) fizeram já a sua decoração de Natal, a sua bufante e chamativa decoração de Natal. Em meados de outubro, várias dessas verdadeiras federações de estabelecimentos já ostentavam os consuetos pinheiros nevados – isso porque é notório que nós, no hemisfério sul, no Natal, estamos no verão – as cínicas grinaldas, as cretinas bolinhas e os odiosos papais-noel; tudo em nome dum consumismo louco e desenfreado. Hoje, saiu no Estado (versão impressa) que o comércio está preocupado com as vendas de fim-de-ano por causa da perda da credibilidade do consumidor (!) com os recentes escândalos de corrupção.
Agora, eu vos pergunto, com a adaptação do ditado que temos cá em casa: o que tem a ver o cós com a calça? (vocês sabem o que vai no lugar desse cós, não?) O comércio sacripanta desse nosso païs, desde a abertura econômica, aproveita-se da ignorância geral e implanta hábitos devassos de consumo, depois, cartões de crédito inutilizáveis quase pelo ano todo; nossa indústria e comerciantes são primazes na criação de ocasiões para presentear, fora o Natal e os aniversários, criaram o Dia das Mães, o Dia dos Pais, Dia das Crianças, Dia dos Namorados; e se a venda anda fraca, cuidado, pois logo teremos ursinhos com laços verde-amarelos no pescoço e de chapéus tricornes, o ursinho da independência, bonecos do tipo Comandos-em-ação representando Dom Pedro I e José Bonifácio, para presentear as crianças no Dia da Independência, ou então um Marcehal Deodoro de borracha para o banho, um bonequinho rechonchudo e barbudo, para as efemérides da República. Compre marechais-deodoro para suas crianças e deixe o seu banho mais divertido e patriótico. Estou vendo, estou vendo!

Memórias

Moreira do Descartável mandou-me um interessantíssimo enlace sobre o governo FHC; muito elucidativo, inda mais para nossos compatriotas leptofrênicos. Serve também para quem tem o descaramento de defender o Governo Fernando Henrique em detrimento do Governo Lula.

Aïnda em tempo: este blogue é tão inútil, que o valor está expresso em Cruzeiros e pela cifra, deve ser o cruzeiro de 1990-1.


Meu blogue vale exactamente Cr$ 512.785,00 (conversíveis em OTNs)
Quanto vale a droga do teu blogue?


sábado, novembro 5

213. Surpresas de América Latina

O mandão é quem põe e dispõe,
mas é o povo que manda no povo,
isso é claro, claro
mais claro que a clara do ovo.

(Lá isso é, Sérgio Godinho)

Alca, alca, al carajo!
Segundo algumas pessoas, o Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez gritava o alegre refrão com uma considerável multidão; o Presidente dos Estados Unidos Mexicanos – ei, que houve? o nome oficial do México é esse mesmo – Vicente Fox declarou durante a Cúpula das Américas, realizada em Mar del Plata Argentina e terminada hoje – que quer que o México participe do Mercosul (!).
Pelo menos, essas são reações dignas a uma potência moribunda que tenta nos engolir; é confortável saber que Chávez é uma pedra no sapato dos Estados Unidos. Nosso Presidente Lula também rebateu: «A Alca é um tema inoportuno.».
É, quem sabe, deixando o cepticismo de lado, não é uma terceira-via latino-americana?

sexta-feira, novembro 4

212. Companhia Carioca de Trens Metropolitanos?

Depois de alguns meses usando somente os ônibus, voltei de mala-e-cuia para o transporte metroviário, mais rápido e menos desgastante; ganhei meia-hora de sono de verdade, visto que fui para o ônibus, pois ali poderia fazer o trajecto todo sentado e tècnicamente cochilando, mas os autocarros andam extremamente lotados e volta-e-meia essa gente que sai de casa propensa a sarilhos arruma um, coisa da qual sou mordaz inimigo. Voltei ao metrô, ao trem metropolitano, o chiadinho do trem a chegar na estação, vibrando os trilhos e, sobretudo, a já mencionada rapidez e o ganho no tempo de sono.
Além da linha 3 do metrô – a antiga Leste-Oeste – faço uso de duas linhas dos trens metropolitanos, a B (Júlio Prestes — Amador Bueno) e a C (Osasco — Jurubatuba); a B está razoável, mas precisa melhorar aïnda; digo isso visto que há quinze anos os nossos trens eram inutilizáveis, hoje até surpreendem, a melhoria geral nota-se desde que uniram-se as linhas sob a égide da estatal Estadual Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, a nota CPTM, pois antes as três companhias que as administravam - a velha Ferrovias Paulistas S. A. (Fepasa), do Estado, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e a Rede Ferroviária Federal S. A. (RFFSA), ambas Federais - faziam delas o caos.
A linha C atende pràticamente toda a extensão da Marginal do rio Pinheiros e tornou-se um exemplo de limpeza nos trens e condições gerais, enfim, uma linha como deveriam ser todas as outras.
Porém, há um detalhe, que pelo que pude perceber, não intriga só a mim: o anúncio das estações, assim como na linha 2 do Metrô, é feito de forma automatizada, ou seja, não é o conductor da composição que anuncia as estações, mas sim uma gravação. O porém não é a gravação em si, mas o acento da locutora, principalmente quando se chega à estação Cidade Universitária, que é anunciada estação Cidade Universitária, acesso à Ponte ORCA à estação Vila Madalena do Metrô; e nos erres que fecham sílaba como em Universitária e Orca, há um erre aspirado no lugar do habitual (para nós paulistanos) erre simples (o chamado em Fonética de flap, se não me falha a memória).
Totalmente aceitável se a ferrovia ficasse em Minas, no Rio de Janeiro ou em algum lugar do Norte do Païs, em São Paulo chama muito a atenção; já ouvi pessoas, dentro do trem, comentando da gravação e até com risadinhas irônicas. O que acho é que, a CPTM deveria refazer as gravações de acordo como falamos nós cá, na nossa cidade. Se se tratasse de uma ferrovia que cortasse o Païs de norte a sul, entender-se-ia plenamente, mas não é o caso, é uma linha que vai de Osasco (certamente dentro da mesma área lingüística de São Paulo) até Jurubatuba, na zona Sul do Município da Capital, então, nada mais justo que a gravação corresponda ao nosso sotaque; a gravação actual causa comicidade não por preconceito, mas por absoluta diatopia, é algo somente fora de contexto.

Aïnda em tempo: o sítio da CPTM tem uns papéis de parede interessantes; para quem se interessa, não ficam tão maus no ecrã.

quarta-feira, novembro 2

211. Hispanica


[…] chamarás aos fillos
que aló do Miño están,
os bos fillos do Luso,
apartados irmáns
de nós por un destino
envexoso e fatal
Cos robustos acentos,
grandes, os chamarás
¡verbo do gran Camoens,
fala de Breogán!

(A fala, Eduardo Pondal)

Na Universidade de São Paulo, há a área de Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Latino-Americanas, porém, poucos talvez saibam que na Espanha se falem outras línguas (como há já um tempo venho frisando insistentemente), e que essas não tenham sequer um único espaço dentro do meio acadêmico. Estranho, visto que há o bacharelado em Árabe, em Armênio e Chinês; absolutamente nada contra essas línguas e culturas, mas acho inadmissível que não haja sequer uma disciplina optativa permanente sobre o Catalão, o Galego e o Basco, línguas e culturas muito mais próximas de nós. Basta frisar que o começo da nossa língua e literatura é comum com a Galiza, lembremo-nos que o Trovadorismo é galaico-português. Por questões políticas, agora estamos separados da Galiza. Tanto, que acredito que uma disciplina do Galego não precisasse necessariamente estar vinculada à área de Língua Espanhola, mas sim à de Língua Portuguesa.
O complicado do galego é o longo hiato que há na Literatura; depois do período trovadoresco, com a progressiva castelhanização, a língua galega foi relegada às campanhas e mesmo as gentes campesinas começaram a assimilar o castelhano, símbolo de prestígio social. Somente no século XIX, com o Rexurdimento, a Renascença Galega, nomes como Eduardo Pondal e Rosalía de Castro trouxeram novamente à vitalidade uma língua quase renegada, como se fosse um falar boçais e de ignorantes. Desde então, sucessivas gerações de poetas e prosadores galegos dão vitalidade e energia ao idioma.
É uma área, pelo que posso sentir, muito pouco explorada dentro dos meandros acadêmicos e mesmo ao grande público não se faz conhecer; praticamente nenhuma publicação do gênero foi editada, exceção à excelente Antologia de Poesia Galega, organizada por Yara Frateschi Vieira, editada pela Editora da Unicamp em 1996; que é pouco mais já dá uma idéia do que é a poesia galega.
Parece-me que existe o termo hispanista para o especialista em língua espanhola e literaturas de língua espanhola, porém, um conceito que é já presente na própria Espanha, de cunho até oficial, é o de línguas espanholas (o castelhano, o vasco, o catalão-valenciano e o galego-português) e não mais chamar o castelhano de língua espanhola, ventos que por aqui e na própria América castelhanófona demorarão a chegar. Aceito, para tal estudioso, a referência de castelhanista, e se alguém tem pretensões a hispanista, há-de ter contacto também com as outras línguas e literaturas da península Ibérica.

O assunto não pára por aqui, mas retenho-me e abro espaço às discussões. Lembrando aïnda do campo ibérico, o companheiro Miquel, do Eines de Llengua publicou parte das comunicações que tivemos nas postagens Luz brasileira e névoa sobre as Cortes e A demagogia habitual sem papas na língua.

210. Os Conquistadores

Lá vais tu caravela lá vais
e a mão que ainda me acena do cais
dará a esta outra mão a coragem,
de em frente em frente seguir viagem.

Será que existe mesmo o levante?
Ando às ordens do nosso infante
e cá vou fazendo os possíveis.

Ó, ei! deita a mão a este remo!
Além são só paragens do demo.
Quem sabe é só um abismo suspenso
só vendo mas o nevoeiro é denso

Será que existe mesmo o levante?...

Mas parai! trago notícias horríveis!
Parai com tudo!
Já avisto os nossos conquistadores,

Vêm num bote de madeira talhado em caravela,
com um soldado de madeira a fazer de sentinela,
com uma espada de madeira proferindo sentenças
enterrada que ela foi no coração doutras crenças.
Enterrada que ela foi sua sombra era uma cruz,
exigindo aos que morriam que gritassem: Jesus!
Com um caixilho de madeira imortalizando o saque
colorindo na vitória as armas brancas do ataque.
Até que povos massacrados foram dizendo: Basta!
Até que a mesa do comércio ainda posta e já gasta
acabou como jangada para evacuar fugitivos
da fogueira incendiada pelos outrora cativos
e debandou à nossa costa a transbordar de remorsos,
mas a rejeitar a culpa e ainda a pedir reforços.

(Letra e música: Sérgio Godinho)