quarta-feira, dezembro 28

236. Buon Natale e felice 1946!


Caminho livre para o Plano Marshall. Feliz 1946 para todos.

quinta-feira, dezembro 22

235. Mensagem de Natal

Que força é essa, amigo?
Que te põe de bem com os outros
e de mal contigo?
(Que força é essa?, Sérgio Godinho)

Mais um ano que se passa, que nos escorre diante da vista sem que nada possa ser feito; são datas simbólicas, efemérides que, mesmo comemoradas em outras datas, como o fazem outros povos e outras culturas, simbolizam a mesma coisa, um rito de passagem. As datas de fim-de-ano são como a gradação dum béquer ou duma régua, passa-se por sobre e ponto.
Não me entra na cabeça que todo ano sejamos obrigados a agüentar as mesmas mediocridades: as pomposas e cafonas decorações natalinas dos bancos, os miseráveis pinheirinhos espalhados pelos subúrbios, os papais-noéis - os pais-natal - encardidos pela poeira de armário de onze meses de vários anos.
E as pessoas iludem-se com tudo isso, se deixam carregar pelos cantos de sereia da televisão, pelo crediário das Casas Bahia, pelas financeiras e comprometem suas finanças pessoais por boa parte do ano vindouro. Agora o comércio deu com a moda de ficar aberto por «jornadas homéricas de natal», como anunciou há alguns dias uma rede de lojas de departamento que estaria aberta durante 60 horas ininterruptas.
Apesar de tudo parecer tão ilógico, deixam-se levar pela vida cara e cor-de-rosa, enquanto continuam a ser a mesma alma mesquinha e os miseráveis sem-natal continuam esmolando pelas ruas; o final-do-ano serve para mim, para um maior asco e uma maior descrença na Humanidade. Carregam-se pacotes, pacotinhos e pacotaços com fitas doiradas e papéis brilhantes enquanto outros, sem natal, estouram-se as tripas em alguma guerra perdida em África. E enquanto você devora o seu tender ou o seu pernil, ou o seu peru, que seja, fabricado ou produzido por algum grande cartel ou conglomerado de productos alimentícios, outros continuam atravessando os dias de estômago murcho porque uns tantos mil milhões de gafanhotos deram fim na colheita do ano.
Fora que se você não conseguiu pôr os pingos nos is durante o ano todo, não é agora que você conseguirá pôr agudos e circunflexos em consoantes.

Não tenho mais nada a dizer sobre as datas términes do ano; somente informo que este blogue entrará em recesso navidenho e retornará com alguma coisa mais útil, a partir do dia 3 de janeiro; à medida do possível, um feliz natal e um próspero ano-novo, nos vemos no ano próximo com as nossas mediocridades consuetas.

terça-feira, dezembro 20

234. Música para Paranapiacaba

(vista de Paranapiacaba desde o Bairro Alto)

Póvoa branca

Pendurada num barranco
dorme minha póvoa branca
sob um céu que por causa
de não ter visto nunca o mar,
esqueceu-se de chorar.

Por suas vielas de pó e pedra
por não passar, nem passou a guerra.
Só o olvido…
caminha lento contornando o canavial
onde não cresce uma flor
nem atravessa um pastor.

O sacristão viu
fazer-se velho o cura.
O cura viu ao cabo
e o cabo ao sacristão.
E minha póvoa depois
viu morrer todos os três…

E me pergunto por quê nascerá gente
se nascer ou morrer é indiferente.

Da sega à semeadura
vive-se na taverna.
As comadres murmuram
sua história no umbral
de suas casas de cal.

E as meninas fazem passamanerias
buscando, ocultas atrás das cortinas,
a esse homem jovem
que, de noite em noite, forjaram em sua mente.
Forte pra ser seu senhor.
Tenro para o amor…

Elas sonham com ele,
e ele com ir-se para longe
de sua póvoa. E os velhos
sonham em morrer em paz,
e morrer por morrer,
querem morrer a o sol.

A boca aberta no calor, como lagartos.
Meio escondidos sob um sombreiro de sisal.

Fugi gente tenra,
que esta terra está enferma,
e não esperes amanhã
o que não te deu ontem,
que não há nada o que fazer.

Pega tua mula, tua mulher e o teu arreio.
Segue o caminho do povo hebreu
e busca uma outra lua.
Talvez amanhã sorria a fortuna.
E se te vem de chorar
é melhor de frente ao mar.

Se eu pudesse unir-me
a uma revoada de pombos
e atravessando a pequenas alturas
deixar a póvoa pra trás
juro pelo que fui
que me iria daqui…

Porém os mortos estão em cativeiro
e não nos deixam sair do cemitério.

Joan Manuel Serrat (letra e música, álbum Mediterráneo, 1971)

Se você tem Multiply (um tipo de Orkut), o áudio está disponível aqui.

Pueblo blanco

Colgado de un barranco
duerme mi pueblo blanco
bajo un cielo que, a fuerza
de no ver nunca el mar,
se olvidó de llorar.

Por sus callejas de polvo y piedra
por no pasar, ni pasó la guerra.
Sólo el olvido...
camina lento bordeando la cañada
donde no crece una flor
ni trashuma un pastor.

El sacristán ha visto
hacerse viejo al cura.
El cura ha visto al cabo
y el cabo al sacristán.
Y mi pueblo después
vio morir a los tres...

Y me pregunto por qué nacerá gente
si nacer o morir es indiferente.

De la siega a la siembra
se vive en la taberna.
Las comadres murmuran
su historia en el umbral
de sus casas de cal.

Y las muchachas hacen bolillos
buscando, ocultas tras los visillos,
a ese hombre joven
que, noche a noche, forjaron en su mente.
Fuerte pa' ser su señor.
Tierno para el amor...

Ellas sueñan con él,
y él con irse muy lejos
de su pueblo. Y los viejos
sueñan morirse en paz,
y morir por morir,
quieren morirse al sol.

La boca abierta al calor, como lagartos.
Medio ocultos tras un sombrero de esparto.

Escapad gente tierna,
que esta tierra está enferma,
y no esperes mañana
lo que no te dio ayer,
que no hay nada que hacer.

Toma tu mula, tu hembra y tu arreo.
Sigue el camino del pueblo hebreo
y busca otra luna.
Tal vez mañana sonría la fortuna.
Y si te toca llorar
es mejor frente al mar.

Si yo pudiera unirme
a un vuelo de palomas,
y atravesando lomas
dejar mi pueblo atrás,
juro por lo que fui
que me iría de aquí...

Pero los muertos están en cautiverio
y no nos dejan salir del cementerio.

quinta-feira, dezembro 15

233. Vetustas imundícies

Você que está aí, sentado na sua poltrona macia em casa, ou diante da televisão, lendo, ou fazendo qualquer outra coisa, isolado do mundo; talvez dormindo. Mas saiba que a Humanidade não pára; não dorme, porque enquanto é noite dum lado e uns dormem, os que estão na face clara, estão despertos. A Humanidade não pára nunca, desde que se deu por si. E desde então, uma coisa é inegável, inquestionável e certíssima: la merda è ovunque. Mesmo que você esteja dormindo, la merda è dappertutto. Pense nisso.

* * *

Prefiro a mudez; ùltimamente as minhas próprias palavras, cheias de arestas e pontas acidentais têm muito me ferido. O melhor é ficar quïeto.

* * *

— Sim, sim; eu vou pra lá… tenho de pegar o ônibus aïnda, e nesse horário… é como atravessar o Mediterrâneo a nado…

terça-feira, dezembro 13

232. Traduções indigestas do merídio

Natal

Sinto o frio da noite
e escuto o sombrio som da cuíca (1),
e ao grupo de rapazes que passa agora cantando.
Escuto o carro do aipo (2)
rodar sobre o calçamento,
e os que avançam, todos em direção ao mercado.

E minha família, na cozinha,
Junto do braseiro aceso,
sob a luz do gás, deram cabo do galo.
Contemplo agora a lua, creio que seja lua cheia;
eles arrancam as penas,
e pensam já em amanhã.

Amanhã, à mesa, esqueceremos dos pobres
-tão pobres como somos-.
Jesus já terá nascido.
Nos olhará um momento, à hora da sobremesa
e depois de olhar-nos, romperá a chorar.

Joan Salvat-Papasseit (1894-1924)

Nadal

Sento el fred de la nit
i la simbomba fosca.
Així el grup d'homes joves que ara passa cantant.
Sento el carro dels apis
que l'empedrat recolza
i els altres que l'avencen, tots d'adreça al mercat.

Els de casa, a la cuina,
Prop del braser que crema,
amb el gas tot encès han ellestit el gall.
Ara esguardo la lluna, que m'apar lluna plena;
i ells recullen les plomes,
i ja enyoren demà.

Demà posats a taula oblidarem els pobres
-i tan pobres com som-.
Jesús ja serà nat.
Ens mirarà un moment a l'hora de les postres
i després de mirar-nos arrencarà a plorar.

(1) simbomba não é exatamente uma cuíca, mas a descrição se aproxima muito, segundo a definição do Dicionário do Instituto de Estudos Catalães: instrument músic que consisteix en una pell tibant adaptada a la boca d'un vas, amb una canya fixada al centre, que, en ésser fregada amunt i avall amb la mà humida, produeix un so fort i monòton.

(2) alusão à carroça de verduras, o verdureiro.

P. S.: o texto tem uns espaços e uns recuos de parágrafos que infelizmente não foram passíveis de serem reproduzidos neste formato electrônico.

domingo, dezembro 11

231. Farmacopéia para as massas


«Ancora non sono riusciti a inventare degli analgesici per i dolori morali e nemmen per quegli altri dolori dell’anima.»

(Aïnda não conseguiram inventar analgésicos para as dores morais e nem para aquelas outras dores da alma.)

sábado, dezembro 10

230. Letávia, III parte

III

Verão em Belavoda. Oito mil, seiscentos e trinta e sete habitantes, segundo o último censo, o de 1938. Oito mil, seiscentos e trinta e sete habitantes afogados em calor; mesmo em plena Europa, àquelas latitudes, o vale onde se localiza Belavoda e praticamente toda Letávia é um lugar particularmente quente. Os metereologistas não sabem bem explicar o fenômeno, a hipertérmica estiva de Belavoda tem explicações tanto díspares quanto absurdas. Um certo prof. Plewnovicz chegou ao disparate de afirmar que certa espécie de peixe do Tjevá, o bylnje czjórnje ou simplesmente bylnje, tão apreciada pela população, assado com batatas, que esse delicioso peixe ósseo clupeiforme - Opisthonema letavica - abundante no Tjevá era o responsável pelo aquecimento do microclima em Belavoda. Tão abundante, que seu preço - para quem o comprava por preguiça de ir pescá-lo - nunca ultrapassava 3 coroas e meia. Segundo a teoria do prof. Plewnovicz, a bexiga natatória do petisco aquático - petisco, visto que é um peixe que não muito grande, no máximo duns 3 a 5 centímetros - produziria excessivo dióxido de carbono, justo no verão, o que agravado pelo calor e pela topografia do sítio belavodense, produzia calor que ficava estacionado pela ausência de ventos no interior do vale, protegido pelos espigões-mestres das duas cadeias de montanhas que o delimitam. O artigo, intitulado O seu jantar o futuro da Letávia, publicado em fins de 1937 no Nasza Zemljá, jornal oficial do Governo Nacional Oclocrático, causou certa incredulidade no meio científico letavo, porém, tendo sido publicado no jornal oficial, o povo assustou-se. O pobre bylnje czórnje foi banido dos cardápios dos restaurantes; um decreto aprovado pela Dieta declarou-o «inimigo do povo e da Pátria». Outro decreto, alguns dias depois, agraciou com o título de peixe non-grato. Criou-se uma expontânea Brigada de Proteção Fluvial conduzida pessoalmente por Beznjakovicz, que foi aclamado seu secretário-geral; a Brigada deu cabo de milhares de peixes a golpes de bastão nas enseadas do Tjevá próximas a Belavoda. Pouco antes do natal, auge do inverno, vidros congelados de conserva de bylnje foram quebrados na praça Czernoczékow por uma multidão enfurecida. No ano-novo de 1938, o Nasza Zemljá, publicou Livres do flagelo, nosso próximo verão será europeu. Em julho, mais especificamente em 16 de julho, a temperatura alcançou os insuportáveis 36,5 graus. Os peixes quase desapareceram, porém, o calor veio ainda mais forte. O prof. Plewnovicz foi chamado a dar explicações. Sumira. Ninguém o achava. Descobriu-se que ele havia saído clandestinamente do país cerca de um mês antes - talvez pressentindo o fracasso da sua teoria - em direção à França.
As conservas reapareceram nos mercados, os peixes in natura voltaram para as feiras, bem mais caro, é verdade, umas 60 coroas a libra. A Brigada, do mesmo modo que apareceu, sumiu. Igualmente os decretos sumiram-se da legislação. Ninguém perguntou nada, ninguém respondeu nada. A base alimentícia mudou do bylnje para as perszebálnyje, ou a popular couve-de-bruxelas, depois de uma campanha governamental em prol dos vegetais, tão adaptados ao clima da várzea. Na praça Czernoczékow foi posto um tabelão: uma pintura representante um Beznjakovicz sorridente, sentado, com guardanapo amarrado ao pescoço, tendo diante de si, um prato fumegante de perszebálnyje cozidas na manteiga. Embaixo dessa bela figuração, o belo moto: nossos repolhos não fedem. Logo depois, emitiu-se uma série de selos postais, com as plantas em vários estágios - semente, broto, planta formada, colheita, preparação e um prato pronto, assadas) nos valores de 1, 5, 10, 30, 75 térty e 1 coroa. Fora a moeda comemorativa de 1 coroa e meia.
Passados os peixes, outra teoria que se levantou foram as fricções da placa da Letávia - a placa tectônica elíptica enquistada no meio da Euro-Asiática, tendo 62 quilômetros de raio, a menor do mundo - com a Euro-Asiática. O calor viria de emissões de gases das falhas, devido ao movimento da terra, principalmente no verão, e as ondas de gás e calor, pelo acidente geográfico, confluíam para o centro do disco, justamente a área de Belavoda. Essa teoria é a mais aceita, inclusive pela Academia de Ciências da Letávia. Tendo sido apresentado um relatório ao Supremo Condutor, este determinou ao Ministro de Obras Públicas, o camarada Ián Ljebánjovicz Antáll que se concretasse toda a área das falhas. A colossal obra consumiu centenas de milhares de metros cúbicos de concreto; toda a área das falhas ficou de aspecto semelhante a uma represa; isso já no limiar da guerra, ou seja, no fim do inverno de 1939. O verão de 1940 está sendo igualmente quente. A temperatura confirma a vocação de balneário de Belavoda, isso se a Letávia tivesse mar; mas é mediterrânea.

quinta-feira, dezembro 8

229. Campanário

A Irene.

I

Sobre a pequena colina,
há uma diminuta igreja.
Hoje de salmão coberta
(ou talvez flamingo).

Tem um campanário,
não muito elevado -
mas que pela altura
domina o vale encharcado
pelas chuvas estivas.
Mas o pequeno templo
está sempre iluminado
pelo sol mórbido dos meus recordos,
alegres e doloridos.
Uma luz baça e fosca

e onde quer que eu vá,
onde quer que eu esteja,
estou sob a sombra
ubíqua e amena
desse santo campanário.
Mesmo de noite
pelas contradas e atalhos
vislumbro seu contorno
destacado fraco na escuridão
e coroado de estrelas.

II

Ah, Campanário,
Tanto já se foi
desde o tempo que eu acendia
não sei para quais santos
sob o olhar aprovador de minha mãe
e o gentil gesto do padre.

Tanto já se passou desde então,
Campanário, desde que
perdi tua imagem real
do meu campo. Tanto tempo já
desde a minha velha casa
via teu cimo,
e o quintal cheio de folhas de caquizeiro.
O trem deslizando
ao Rio de Janeiro,
a grande praça sem praça
formada pelo deságüe de várias ruas
(ainda havia ali paralelepípedos)

E enfurnado entre as árvores
da calçada e as da escola
havïa um parquinho poeirento
de terra vermelha,
onde avôs de grossos óculos
levavam os netos para brincar,
e na expressão de cada um,
na pele arada pelos anos,
uma melancólica felicidade
atrás dos óculos
e da barba áspera qual um cacto.

Ah, quanto tempo já é passado.
Já é passado - recordações
que se entulham no fundo da alma
e hoje servem somente a incomodar,
somadas às novas angústias.

III

Não, Campanário,
não a conheces;
não conheces a moça
dos cabelos noturnos
a quem dedico
meus pensamentos,
minhas vontades.

Mas há algo no passado
- como se no teu relógio,
Campanário, faltasse,
ou por descuido do mecânico
ou por má-fé de anônimo,
faltasse uma peça,
um pequeno parafuso,
uma mola minúscula
que te impedisse
o destro contar do tempo.
Mas há, Campanário, algo
que me obsta as minhas engrenagens
e nada anda,
e quando me esforço, recua.

Mesmo que eu lubrifique
o mecanismo das coisas
com as minhas saladas lágrimas,
inda mais se enferrujam;
e as engrenagens oxidadas
atritam e esquentam.

Se me travam, Campanário,
se me travam! E cada dia
que me rego do leito
e vem o Sol anunciar
que o tempo não parou,
que nasce o dia,
uma terrível angústia
me doma,
e comporto-me como um autômato.

Desde manhã e pelo dia todo,
agüentando desaforos,
e cada desaforo, Campanário,
uma a cada mover dos teus ponteiros
são como um golpe de machado
dum experïente lenhador.
E de golpe em golpe
tolheu-se-me o caquizeiro
das minhas esperanças.

E o tempo se faz vazio.

sábado, dezembro 3

228. «Cada qual com sua mania»

(dedico a uma amiga muito querida e benvolguda)

Cantam Caetano Veloso e Joan Manuel Serrat; letra e Música de Joan Manuel Serrat, versão de Santiago Kovadoff.

Cada qual com sua mania
o gosto não se discute.
Artefatos, bestas, homens e mulheres
cada um é como é
cada um é cada qual
e se manda pela escada como quer.

Mas se tiver que escolher, sou partidário
das vozes vivas da rua, mais que do dicionário.
E gosto mais do bairros que do centro da cidade
e dos artesãos mais que da feitoria.
Da razão que da força,
do instinto que da urbanidade,
e dos indios que do Sétimo de Cavalaria.
Prefiro os caminhos às fronteiras
e uma borboleta ao Rockefeller Center
e o faroleiro de Capdepera
aos vigias do Ocidente.

Prefiro querer a poder.
Tatear a pisar.
Amar a querer.
Pegar a pedir.
Dançar a desfilar
e desfrutar a medir.
Prefiro voar a correr.
Fazer a pensar.
Beijar a brigar.
Ganhar a perder.
Mais do que tudo, sou
partidário de viver.

Cada qual com sua mania
o gosto não se discute.
Artefatos, bestas, homens e mulheres
cada um é como é
cada um é cada qual
e se manda pela escada como quer.

Mas se tiver que escolher, prefiro
um bombeiro a um bombardeiro
e um suspiro a um vampiro.
Crescer a sossegar, prefiro a carne ao metal
e tua casinha a um castelo.
A pinta da tua cara à pinacoteca nacional
e a revolução aos pesadelos.
Prefiro o tempo ao ouro, a vida ao sonho,
o cão a coleira, as nozes ao ruïdo
e o sabio por conhecer
aos malucos conhecidos.

Prefiro querer a poder.
Tatear a pisar.
Amar a querer.
Pegar a pedir.
Dançar a desfilar
e desfrutar a medir.
Prefiro voar a correr.
Fazer a pensar.
Beijar a brigar.
Ganhar a perder.
Mais do que tudo, sou
partidário de viver.

sexta-feira, dezembro 2

227. Uma pequena (e amarga) lembrança

É óbvio que as Malvinas são argentinas. E acho que foi uma tremenda deslealdade nossa para com nossos irmãos-comunitários que não lhes tenhamos ajudado; nem para isso serviu o General Figueiredo. Não podemos nos esquecer que o que aconteceu com a Argentina quase aconteceu connosco, quando, no começco do século XX, os ingleses tentaram tomar posse da ilha de Trindade, para amarrar um cabo telegráfico. Só não tivemos o mesmo destino dos nossos vizinhos porque tínhamos o Barão do Rio Branco que soube nos puxar das garras da pérfida Álbion.
Por isso que faço coro ao taxista que conheci em Puerto Iguazú, a caminho das Cataratas: las Malvinas son nuestras.

226. «Gente-boa»: Coronel Papadopoulos


Coronel Georgios Papadopoulos (1919-1999), primeiro-ministro entre 1967 e 1974, durante a Ditadura dos Generais na Grécia, repressor por excelência, foi deposto em 25 de novembro de 1973. Em 1974 foi condenado por alta-traïção contra a Grécia e seu povo. Passou o resto dos seus malditos dias no cárcere e morreu carcomido por um câncer, tendo aïnda a soberba de recusar uma anistia na década de 1980, hoje está nos círculos infernais mais próximos do Príncipe das Trevas, a volta antenora, se não me falha a memória.

quinta-feira, dezembro 1

225. «Gente-boa»: Carl Gustav Emil Mannerheim

Marechal Carl Gustav Emil Mannerheim, chefe das Waffen-SS finlandesas - perdão - do Exército Finlandês. Filo-nazista, sentiu-se culpado a vida toda por não ter nascido alemão. De 1944 a 1946, ditador-tampão, um dos únicos da História. Gente boníssima segundo o Führer, abalizado também pelo Duce, com o qual dividem apartamento nos Campos Sulfúreos do inferno. Nesta foto, provavelmente da década de 1930, não se vê a Cruz-de-Ferro dada pelo Reich, mas que é percepítivel - e quanto! - em fotos posteriores como na que se segue. Vede, bem junto da gola do uniforme, e aliás, engraçadíssima a pose de bicha-velha.


Aïnda em tempo: Malvados, excepcionalmente mais primaz e preciso do que de costume.