sábado, janeiro 28

256. «Manda três brejas pro doutor Lênin!»


Bares Estatais Venardos. Do povo para o povo.

sexta-feira, janeiro 27

255. Dois pensamentos com sapatos

I. Não há nada mais violento e ofensivo do que descalçar o sapato e lançá-lo sobre alguém. Dois em um: ofensa física e moral.

II. É difícil manter a dignidade com os sapatos encharcados.

Faixa bônus: III. Meias dão óptimas mordaças.

Caça-tonto: sapataria na Vila Madalena, sapatos alemães de cromo, sapateiro, vendo bota ortopédica a bom preço.

quinta-feira, janeiro 26

254. De próceres e próteses


Nosso pobre Marechal Deodoro não anda lá muito cotado. Tão mal cotado, que uma companhia de ônibus da Capital mudou seu nome, talvez para que soasse melhor; na tabuleta de um dos ônibus que vai da zona Oeste para o Centro, lia-se, «via Marechal Teodoro».

Cata-tonto: Proclamação da república, tratamento caseiro para apendicite, aprenda inglês dormindo.

terça-feira, janeiro 24

253. Andaluzes, levantai-vos!

La bandera blanca y verde
vuelve, tras siglos de guerra,
a decir paz y esperanza,
bajo el sol de nuestra tierra.

¡Andaluces, levantaos!
¡Pedid tierra y libertad!
¡Sea por Andalucía libre,
España y la Humanidad!

Los andaluces queremos
volver a ser lo que fuimos
hombres de luz, que a los hombres,
alma de hombres les dimos.

¡Andaluces, levantaos!
¡Pedid tierra y libertad!
¡Sea por Andalucía libre,
España y la Humanidad!

Áudio MP3 do sítio da Junta de Andalucía.

P. S.: não sei se é impressão minha, mas a música tem umas inflexões bem mouriscas.

segunda-feira, janeiro 23

252. De Darwin e de louco todo o mundo tem um pouco

O ser humano distingue-se dos outros animais pela sua incomensurável e ímpar estupidez; e também pela capacidade de criar e reproduzir asneiras de grande magnitude.

Quem canta, seus males espanta: de boig tothom té un poc, estatuto da Catalunha em português, concurso público para auditor da Receita, fã-clube do Mário Soares.

sábado, janeiro 21

251. Rolhoanálise

«Para aquellos que tienen cerebro de corcho.»

Fui impregnado por uma frase, lida dos quadrinhos do Quino. Manolito referindo-se a Susanita: «¡Vaya! Yo creía que hoy había huelga de idiotas, pero parece que salieron a trabajar.» Lembra-me esta frase todo dia pela manhã, quando entro no metrô cheio. Afinal, não preciso ser razoável todo o tempo.

Pega-tonto: Toda Mafalda, Fidel, ese niño es antidemodratico, problemas con el año nuevo, el equilíbrio de los próceres, vacas voadoras.

sexta-feira, janeiro 20

250. Disparates antefinisseptimanais


Como este meu sítio anda literalmente às moscas, fico à vontade para declamar os mais variados disparates sem medo de vociferantes críticas como, por exemplo, numa futura união político-monetária com a Argentina (é o futuro, não se esquivem!), seria plausível adoptar o galego como língua oficial, afinal é o que falam os argentinos quanto tentam falar português. As Malvinas, arxentinas; clama o viento e ruxe o mar!

Pega tonto: Falklands Islands, Buenos Aires, Marcha de las Malvinas, General Leopoldo Galtieri, Guerra do Paraguai.

quinta-feira, janeiro 19

249. União Soviética: «Basta de estopa!»


Só ouvindo para poder crer. Aqui.

Parole, parole, parole: Igreja Ortodoxa Russa, Como funcionava o Praesidium, Stalin, Genosse treu und klug.

quarta-feira, janeiro 18

248. »Haben Sie gehört das Deutsche Band?«


Hoje levantei de bom humor: dei três caneladas em pessoas diversas no metrô, fiz caretas para duas senhoras no trem e pus uma granada de mão envolta num laço vermelho na mesa do meu chefe, acompanhada dum cartãozinho: bom dia!

Caça-tonto: The Producers mp3, musical da Brodway em português, Hitler bailarina, como contrabandear cigarros, música paraguaia, guarania.

segunda-feira, janeiro 16

247. Silêncio

246. Constatações

Uma radiante manhã de segunda-feira (em preto-e-branco).

sexta-feira, janeiro 13

245. Estupidez no atacado

Mina, Arábia Saudita - Milhares de peregrinos muçulmanos, correndo para completar um ritual simbólico de apedrejamento do demônio, no último dia do hajj, tropeçaram na bagagem, provocando um pisoteamento. Um porta-voz do Ministério do Interior, general Mansour al-Turki, diz que o número de mortos chega a 345.
A tragédia ocorreu no momento em que dezenas de milhares de peregrinos dirigiam-se a al-Jamarat, um conjunto de três pilares que representa o demônio e que os fiés atingem com pedras, para purificarem-se dos pecados.
Um médico do Crescente Vermelho Saudita falou em mais de 1.000. Esse médico foi identificado apenas pelo nome no crachá, Abbasi.
Imagens gravadas na cena mostram fileiras de mortos estendidos em macas sobre o pavimento, cobertos com lençóis. Ahmed Mustafa, um peregrino vindo do Egito, diz ter visto cadáveres sendo levados em caminhões de frigorífico. (AE e BBC)

quarta-feira, janeiro 11

244. Berlin, Alexanderplatz?

A RDA era a Brodway socialista? Provas? Links, Rechts!. Ernst Busch não me deixa mentir.

243. Entrevista

Republicação. O presente texto foi publicado neste blogue em março de 2005.

O conde partido ao meio (entrevista).

O lado direito – o mais malvado – do Conde, que já se pensava morto, está vivíssimo e em visita pela região do monte Pyhä, na Finlândia e foi reconhecido pelo jornalista Paavo Läkkinen, locutor da rádio Voz de Sodankylä (da cidade mas próxima, ao norte do monte) e editor-chefe do jornal local, a Gazeta de Sodankylä. Apesar da fama de mal humorado, o meio-Conde concedeu uma entrevista para Läkkinen na rádio, posteriormente transcrita no jornal.

É um prazer tê-lo conosco, Conde, nem que seja uma fração; visitando essas paragens esquecidas da Finlândia, e o que mais me surpreendeu, num finlandês impecável!
Eu que agradeço, Paavo, a honra de poder falar nos seus microfones, nem que seja com uma fração dos meus dentes e eu nem possa morder a sua mão. Oportunidade realmente única; só não sei o que você quer saber de mim, já que nada tenho para falar. (risos).

Então eu puxo um assunto; o senhor, que é um renomado literato do seu país, o que acha de Shakespeare?
Você foi extremamente irônico, visto que sou o único literato do meu país, o meu país é móvel, é sempre a área de cinco metros ao redor de mim (risos). É difícil que outro literato entre no meu perímetro (risos). Shakespeare é um bom dramaturgo, certo que não chegue à altura de Gil Vicente, mas é bom, seu único e grande problema, é ter escrito em inglês, língua que além de problemática e pobre, vocabulariamente falando, tem o agravante de ser dilacerada por pronúncias horrorosas, como a canadense e a americana…

Por que tanta bronca da língua inglesa? E qual seria a melhor pronúncia do inglês, já que o senhor mostra antipatia pela pronúncia das Américas?
Línguas que não têm diacríticos não são confiáveis. Fora ser a língua dum país onipotente e sem nome. Quem pode confiar na língua duma superpotência que não tem nome?

Não tem nome? Como?
Os Estados-Unidos! Esse país-bestião! Estados-Unidos da América por acaso é nome de país? Espanha, Portugal e França, por exemplo são nomes de países. Agora um nome que contém a forma de governo e o nome do Continente; afinal, nós cá também somos América! Quanto à pronúncia do inglês, Charles Aznavour tem a melhor pronúncia que eu conheço; assim como a melhor pronúncia do francês é de Amália Rodrigues. Ela cantando La vie en rose é magnífico; voltando à pronúncia do inglês, tenho minhas preferências ao Benigni Pattern. E há ainda o Inglês da Rainha. Dos males, os menores.

Analisando a última resposta, vê-se claramente o seu eurocentrismo; por que?
Na minha infância, a terra do ouro preconizada pelos meus mais próximos era a Europa; porém, o peso cultural do Velho Mundo terminou por se tornar uma mala que arrasto onde vou; tenho ojeriza aos nossos vizinhos territoriais – e ainda bem que estamos longe das fronteiras (risos); estabeleci meus laços culturais com a Europa, principalmente a Europa Mediterrânea, latina, certamente.

O senhor disse Europa latina e mediterrânea; mas há alguns dias, o senhor fez – em público, num bistrô em Angoulême – uma apologia ao colonialismo inglês, não é verdade?
Sim, sim, é verdade. O assunto surgiu quando conversava com dois velhos amigos, Daniel Séchard e Antoine Chardon, a Índia, por acaso entrou na pauta da conversa. Por mais que haja ioga [o «o» de ioga foi pronunciado enfaticamente aberto] e budismo e outras tralhas… orientalizantes, continua sendo um país que me inspira repulsa. Vacas cagando para todo lado e sendo tratadas como reis; vacas na minha concepção não passam de um amontoado de bifes que pastam. E talvez seja pela falta de higiene dos indianos – o fato de comerem com a mão, limparem-se com a mão [uma careta de nojo] e as ruas de Nova Déli terem um odor insuportável! É por isso que os ingleses nem calçada queriam dividir com os indianos. Justo!

Mas essa é uma posição muito polêmica…
Ora, Paavo! O que mais me enoja nos dias de hoje não são as posições polêmicas; mas sim esse falso bom-mocismo que impera hoje. As pessoas escondem suas idéias hoje mas as destilam todas do mesmo jeito, às escondidas. O Homem seria muito melhor se vivesse mais para si e sua colectividade isolada ao invés de ir meter o bedelho no que dizem os outros, a respeito do que quer que seja.

Inclusive a defesa do colonialismo?
Sim, inclusive; o colonialismo europeu à moda antiga. Essa história de domínio econômico é colonialismo de maricas, de moçoilas. Tem de ser viril e másculo para pôr em vigor um domínio político e directo; chamar determinado território de colônia ou protectorado. As antigas colônias européias em África, por exemplo, talvez tivessem mais mobilidade do que nós, uma republica «independente», mas presa a compromissos econômicos absurdos com órgãos financeiros internacionais. Quanto ao colonialismo, (pigarreia) há certas regiões do globo que não há solução; meu caro, veja o caso da África – é um barril de pólvora, foi só os europeus começarem a retirar-se que os velhos… tribalismos voltaram à tona e jogaram a região no caos e guerras endêmicas, salvo pequenas exceções. Embora parte disso – sejamos honestos – foi causado pela arbitrariedade das fronteiras, (pausa) é só ver como elas, em várias partes são retas. (gesticula traçando uma reta no ar) As fronteiras uniram povos inimigos e separam outros povos; e isso se transpõe à política: guerras civis, como a de Biafra na década de 1970, a separação da Eritréia. Talvez fosse necessária a permanência dos Europeus mais algum tempo em África. Sinto que a Finlândia não tenha podido, com toda sua pujança cultural, ter tido colônias, ao contrário, ter ficado tanto tempo não mão dos suecos e dos russos…

E o que o senhor quer dizer com tudo isso?
(sorri ironicamente) Que a idéia que todos os povos têm o mesmo nível de desenvolvimento intelectual e cultural é uma grande balela; veja a música européia, ocidental do século XIX. A Ásia continuava com suas monótonas toadas pentatônicas, a África com seus batuques e percussões; isso de igualar as culturas é um traço perigoso (engrossa a voz) do bom-mocismo. Veja também no nosso país, na nossa grande Pátria-Mãe; iniciativas culturais para os carentes resumem-se em ensiná-los a batucar em latas e fazer malabares e eu pergunto para você: onde isso tudo termina? Nos semáforos, ao invés de venderem balas, macaqueiam com bastões ou engolem fogo…

Então o senhor critica duramente essas iniciativas culturais?
Culturais?! (ri) Não me faça rir! Certamente; são iniciativas inúteis. Precisamos de escritores, de oradores, de bons políticos, de homens de governo, de estadistas; e em breve seremos uma nação de circenses e atendentes de telemarketing. Pão e circo; é isso que querem as elites; por isso o apoio extra-oficial do Poder Público; mantendo o proletariado ocupado com malabares e batuques, as oligarquias reinantes e a elite burguesa podem continuar mandando e desmandando, à revelia da população. Devem ensinar nossas crianças a ler Camões desde pequenas, não fazer como fazem, por Os Lusíadas como uma obra intransponível e dar-lhes de ler versões proseadas! Por favor, isso me enoja! (faz um careta de nojo) O cidadão deve ser educado a ponto de poder entender o que está lendo; hoje não, simplesmente pula-se; como se Camões nada representasse.

Mas Camões é literatura portuguesa… não seria melhor criar as crianças sob a cultura brasileira?
A cultura brasileira é uma quimera, meu caro! Somos ainda portugueses ultramarinos sem identidade; queremos abandonar a Europa, mas não temos nada para substituir; por isso o actual vazio cultural, essa música de bordel que se desenvolveu… e somos péssimos brasileiros justamente por que tentamos nos livrar de uma herança que nos é um tesouro, embora certos eurofóbicos vejam-na como um empecilho; é a minha mala… somos uma civilização, querendo ou não, luso-brasileira; e a idéia do antigo Reino Unido [não o inglês, mas a monarquia dual Portugal-Brasil] de 1815 não seja tão má idéia assim.

Mas, música de bordel? Que música de bordel?!
Esse dito Axé, de altíssima conotação sexual. Música para ser boa não precisar ter duplo sentido! Porém, o povo emburrecido somente dá atenção e diz gostar dessa música de péssima qualidade, esses axés, música sertanejas – não a de raiz, veja bem, mas essa música sertaneja urbana, desculpe-me o baixo linguajar, essa dor-de-corno diarréica. Gira-se o selector do rádio, ei-las todas lá, uma rádio pior que a outra; e o Poder Público, ao invés de tentar mudar essa situação por políticas culturais, senta em cima. Recentemente fecharam a Sinfonia Cultura. Onde já se viu fechar uma Orquestra?!

O senhor citou há pouco os atendentes de telemarketing. Qual o seu problema com eles?
Na verdade; seria: qual o problema deles conosco? Com um curso ridículo de vendas – essa palavra também me enoja enormemente – crêem-se onipotentes sobre o seu interlocutor; passam a acreditar que com a insistência, o interpelado irá comprar o produto oferecido. O que poucos sabem é o ódio que inspira a insistência; principalmente a invasão causada pelo telefone. Interrompem sua leitura, seu jantar. Sei que isso é muito individualismo, e que o individualismo é causa de muitos senão de todos os males da nossa sociedade; mas sentem-se no direito de falar-lhe à sua revelia! Despejam uma centena de palavras sobre você, rapidamente – o intuito é confundir e não deixar que você raciocine; sei porque tive, certa feita, de freqüentar um desses famigerados cursos; esse é um comportamento que se baseia na igualdade comportamental dos seres humanos; o que é tão mentiroso quanto acreditar que exista uma raça ariana ou que o ser humano foi gerado desde Adão e Eva…

O senhor é ateu ou agnóstico? Essa é uma pergunta que aflige seus leitores, visto que contradiz as Escrituras…
As Escrituras para mim são literatura; ótimo como literatura. Inclusive, para entender certas obras, é necessário ter conhecimento dos Livros Sagrados; próprio como disse Borges certa vez, indagado de qual era seu livro predileto – se não me falha a memória – disse que era a Bíblia. Indagado do porquê, respondeu sabiamente: «porque a Bíblia é o único lugar onde se passa das uvas ao porre em três versículos»; e quanto ver a Bíblia como literatura, tomo partido de Borges; a Bíblia é base dos escritores da Cristandade, pois bem ou mal, a Civilização Européia gerou-se sob a égide da religião cristã; católica ou protestante, pouco importa.

E sobre a religião em si, qual a sua opinião?
Quando do ponto de vista espiritual, a religião é totalmente descartável, o Homem não precisa disso para viver; e corresponde somente a um clamor interno e primitivo frente a uma realidade inexplicável; porém, há o outro lado da moeda, o lado do mecenato que exerceu a Igreja. Se não fosse ela, o Coliseu não existiria mais; não haveria a Basílica de São Pedro, e tantas outras obras de arte pictóricas e arquitectônicas. Enquanto os comunistas – embora simpatize muito com eles – saíram pela Rússia a destruir igrejas…

Falando em posicionamento político, o senhor acabou de declarar simpatia pelo comunismo, pode especificar, detalhar-nos mais?
Sou pela linha do socialismo; embora nada tenha lido de Marx ou Engels, simpatizo com Lênin, principalmente no seu livro Ditadura do proletariado e poder soviético. Muitas pessoas criticam o socialismo, porque não o conhecem ou conhecem somente o lado ruim da sua aplicação na Europa Oriental. Aplicação parcial: aspectos bons e ruins. E pelos aspectos ruins, resolveu o povo daquela região abdicar de todas quantas suas conquistas para poder comprar bugigangas e atravessar fronteiras; a maldita comichão que ataca os seres humanos quando estão bons e quietos.

E quanto aos problemas contemporâneos que o senhor elenca; como a desinformação geral e a falta de interesse da população por assuntos culturais?
É culpa da nossa retrocultura argentária; enquanto o mundo girar em torno do dinheiro, não há chance de recuperação.

Bem, nosso tempo esgotou-se e eu gostaria de agradecer a presença nos nossos estúdios do Conde De Venardis, ou melhor, de parte dele. Muito obrigado, Conde.
Eu que agradeço a oportunidade. E aproveitando que você está tão solícito, você não saberia qual o horário do próximo trem para Helsinque, saberia? Aqui faz muito frio… e meio-Conde será por enquanto, pois estou vendo com um médico austríaco a cirurgia de reconstrução da outra metade do meu corpo… ou você acha que eu quero voltar para São Paulo e continuar a ser um bancário estúpido com aquele meu eu-esquerdo, tão bonzinho que dá ânsia de vômito? Nem morto! Arrivederci, para você, seus pés gelados e sua cara vermelha! Lapões…

terça-feira, janeiro 10

242. Rumo ao Socialismo


À Juliana, pela inspiração.

Imagine, caro leitor: uma fazenda colectiva no interior da Alemanha Oriental, no sete de outubro (data nacional da RDA), galinhas e bois desfilando, seguidos por arados e tratores, com acompanhamento de algum Musikkorps de algum regimento perdido das Nationalen Volksarmee. Galinhas socialistas buscando um porvir melhor; comida socialista! Vorwärts, Genosse!

segunda-feira, janeiro 9

241. Encyclopaedia Venarda: molotov, coquetel

240. A faixa da discórdia

Como já é de conhecimento geral, o Governo Federal abriu uma licitação para a confecção de uma nova faixa presidencial. Artefato por si só ridículo e antiquado (1) mas faz parte do Cerimonial e por isso tem o meu respeito. A grande atribulação não é com relação à faixa em si, ou que o número de estrelas nas Armas Nacionais pendentes da mesma estariam defasadas (parece-me que o Edital ignorou a estrela representante do Estado de Tocantins), mas com o valor da faixa, orçada em pavorosos R$ 38 mil.
É visível a indignação popular: comenta-se pela rua, o absurdo de ser tão cara uma «faixa de pano». Certo que tem umas incrustações de pedras preciosas, uns fios de ouro, mas nada que justifique R$ 38 mil de gastos vindos do Erário público. O povo está indignado; eu, por minha vez, faria pior: além da faixa, mandaria fazer também um cetro (igual àquele cajado republicano que os Presidentes argentinos usam) e um barrete frígio à moda republicana. Orçaria tudo nuns R$ 100 mil. Indignação por indignação, gastemos mais e demos razão a esse povo miserável, que fica a regular ninharias aos mandatários da Nação. Afinal de contas, eles merecem.

(1) A faixa presidencial foi introduzida em 1910, durante o Governo Hermes da Fonseca (quem?), ou seja, um presidente obtuso, uma resolução inócua. Talvez seja essa a maior contribuição do Marechal Hermes para o País.

quinta-feira, janeiro 5

239. Olor eqüino

Nunca compactuei com os Militares, além do mais, nasci sob a égide do último e mais obtuso Presidente do período o Excelentíssimo General João Baptista Figueiredo, ou seja, o período da manteiga e da anistia dos Anos de Chumbo. Mesmo nunca tendo com eles concordado ou jamais feito apologia a um regímen tal, o Presidente Figueiredo, personalidade assaz controversa, tinha eventualmente alguns arroubos de lucidez e bom senso. Circula boca-a-boca que certa vez ele disparara uma frase como: «Prefiro o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo».
Sou obrigado a dobrar-me em reverência a comentário tão rico e espirituoso; realmente, uma estrebaria cheira melhor do que um vagão de metrô lotado. Não exatamente o «cheiro físico» (noves-fora esse), mas o «cheiro social», por assim dizer. O povo – palavra essa que no português variante brasileira é obrigatoriamente pejorativa – cheira mal, não porque não faça uso de fortíssimos perfumes da Avon ou loções pós-barba que cheiram a panetone mofado, isso são vícios do mau-gosto e da falta de bom-senso, e esses últimos dois quesitos, sim, são a nossa podridão, fora a nossa já habitual falta de educação e a tendência assustadora para assuntos prosaicos e fúteis.

O mau cheiro vem dos péssimos hábitos culturais (?) do povo, que se volta servilmente a uma postura de pôr o trabalho, a «carreira» acima de tudo. Girando em volta do dinheiro, sempre. O povo comporta-se realmente como grei: pasta, rumina e evidentemente deixa aqueles imensos discos de excremento por onde passa.
Os hábitos culturais – aqui friso hábitos culturais como mera categoria abstrata – resume-se a churrascão de carne vagabunda, regado a cerveja e acompanhamento musical altíssono. Aïnda se faz questão que mostrar à vizinhança a qualidade dos gostos musicais, manifestações populares autênticas de nossa cultura, portanto, desprezíveis.
O povo é pobre. A pobreza financeira é um dos aspectos menos relevantes; o que me incomoda é a pobreza moral e social, ou seja, temos um povo composto por espíritos-de-porco em sua grande maioria. Falava-se, à época do Império Romano, do Genius Populi Romani, ou seja, o gênio da raça, o Volksgeist; nós ficamos no máximo com a Estupidez Coletiva.
Apesar da farda e dos galões, General Figueiredo tinha razão, e eu também prefiro os cavalos. E cada povo tem o Presidente que merece.

terça-feira, janeiro 3

238. Sucessão presidencial: valsas e contradanças

(João Baptista Figueiredo e Emílio Garrastazu Médici executando um gracioso passo de Danúbio Azul durante o Milagre Brasileiro, nos anos 1970)

Estou um pouco fora das informações, confesso que minha acídia e o meu sopor me têm impedido de acompanhar o telejornal. Inclusive ontem, por acaso vi uns trechos do telejornal da Record: informavam sobre a detenção do atacante Viola; ou seja, assunto absolutamente inócuo, o que leva à conclusão de que o mundo continua nos eixos.
Porém, mesmo estando fora do circuito, algumas notícias atingem-me transcedentalmente, como sucessão presidencial, por exemplo. Bem sei – como todos vocês o sabem – que as eleições são só em outubro e até lá, muita água rola por baixo da ponte. Noves-fora, temos ao menos alguns cenários, e eu, como analista político amador, faço os meus. Certamente teremos o atual Presidente no páreo, o Efelentíffimo (1) disputará sim a glória de ser investido da Presidência da República. Uma grande incógnita é, quem disputará com Lula a faixa auri-verde.
A nossa Social-Democracia tucana parece estar indecisa entre três pré-candidatos: o Governador de Minas Gerais Aécio Neves, o Prefeito de São Paulo José Serra e o Governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin. Aécio Neves, para mim, não cheira nem fede, mas eu jamais votaria num homem com esse nome. Ainda se fosse Aerofólio Neves ou Asdrúbal Neves, ainda ia. Para mim, Aécio está fora.
Sobram então o nosso alcade Serra e o interventor Alckmin. São ambos farinha do mesmo saco, vejamos as conjecturas: caso Serra saia candidato à Presidência, ficaremos por dois anos nas mãos dum certo Gilberto Kassab, corrupto emérito. Se sai candidato Alckimin, ficamos durante alguns meses na mão inócua de Cláudio Lembo, o inócuo vice-governador, inócuo como todo vice deve ser. Elas por elas, ainda prefiro que saia Geraldo Alckimin para a Presidência; e que perca, de preferência.
Em quem eu vou votar? Em ninguém.
Esse é um cenário válido se nenhum novo escândalo envolvendo cuecas recheadas de dinheiro, mensalões, deputados ex-gordos falastrões não venham a manifestar-se durante os próximos meses.

(1) não me lembra agora qual cronista cunhou o termo, mas que é realmente genial. Se o Presidente fosse gordo, poderíamos chamá-lo Elefantíssimo.

segunda-feira, janeiro 2

237. Auferstanden aus Ruinen

Não sou muito de crendices, e as de fim-de-ano irritam-me particularmente. Aquela baboseira toda de comer lentilhas - nada contra elas em si, até me aprazem - , pôr folhas de louro na carteira, ou então três lentilhas ou feijões crus na carteira também, ficando a sua carteira com o risco de ficar entupida de gêneros alimentícios e não de dinheiro. Fora as manias de engolir três ou sete uvas passas, uvas, castanhas de uma vez e sem mastigar. O máximo que você conseguirá com tal é uma visita de última hora ao pronto-socorro. Fora as cuecas brancas, roupas brancas e outras asnidades de igual magnitude.
Também não sou muito de previsões e correlatos, mas confesso que no dia 31, ocorreu-me um fato bem estranho. Eram entre dez para as onze e onze e cinco da noite, no máximo; estava lendo para variar, tentando terminar o Êxodo do Velho Testamento - afinal, a Bíblia é Literatura também - quando a palavra éfode aparece nas descrições de como tinham de ser as roupas dos sacerdotes do tabernáculo que Deus mandara construir, ou seja, quase o final do livro. Assolado pela dúvida, busquei o tomo correspondente da onisciente Larousse-Cultural. A palavra não consta da até então infalível e dogmática Enciclopédia. Apesar da dúvida que ainda me transtorna, voltei à leitura, não sem antes anotar no guia de leitura - que é na verdade alguma folha de sulfite que dobro e faço de caderno de anotações - o capítulo e o versículo onde aparece a palavra, que inclusive aparece algumas vezes depois.
Girei algumas folhas do tomo da Enciclopédia e deixei-a aberta enquanto retomava a leitura. Li mais alguma coisa e quando olho a Enciclopédia aberta, meus olhos se pousam exatamente sobre o verbete Eisler, Hanns. Deu-me um baque; eu conhecia sim aquele nome e automaticamente fiz o enlace. Hanns Eisler é o compositor que fez a música do Auferstanden aus Ruinen, o hino da velha República Democrática Alemã (RDA ou DDR para os íntimos). Eisler, Auferstanden. O velho hino fala de «renascer, erguer-se das ruínas», de construir o futuro, de ter paz e liberdade, de união, de nova vida. E não é como os outros hinos dos outros países socialistas, não há referências directas ao Socialismo, nem a Lênin, nem a Stálin; a menção do hino é o renascimento da Alemanha como nação, das cinzas e ruínas da guerra, de caminhar confiante num futuro e até cabe a imagem de um sol fulgurante. Deixo-vos, como augúrio de ano-novo, meu, para vocês.

Auferstanden aus Ruinen
und der Zukunft zugewandt,
laß uns dir zum Guten dienen,
Deutschland einig Vaterland.
Alte Not gilt es zu zwingen,
und wir zwingen sie vereint,
denn es muß [wird] uns doch gelingen,
daß die Sonne schön wie nie
über Deutschland scheint.

Glück und Frieden sei beschieden
Deutschland, unserm Vaterland.
Alle Welt sehnt sich nach Frieden,
reicht den Völkern eure Hand.
Wenn wir brüderlich uns einen,
schlagen wir des Volkes Feind.
Laßt das Licht des Friedens scheinen,
daß nie eine Mutter mehr
ihren Sohn beweint.

Laßt uns pflügen! Laßt uns bauen,
lernt und schafft wie nie zuvor,
und der eignen Kraft vertrauend
steigt ein frei Geschlecht empor.
Deutsche Jugend: bestes Streben
uns'res Volks in dir vereint,
wirst du Deutschlands neues Leben,
und die Sonne schön wie nie
über Deutschland scheint.

Em português:

Levantamos das ruínas,
E um futuro a conquistar,
Doaremos o melhor de nós,
Alemanha pátria unida.
Precisamos fazer da nossa
força uma união.
E devemos iniciar uma nova era,
Como um Sol que nunca brilhou
Sobre a Alemanha.

Alegria e paz são as nossas metas,
Alemanha nossa pátria.
Todo o mundo deseja a paz,
O poder popular em nossas mãos
E a nossa fraternidade unida,
Derrotaremos os inimigos do povo!
E a luz da paz sempre brilhará.
E que nunca mais uma mãe chore
Por seu filho.

Que os arrados e fábricas,
Estejam em nosso poder, pois nunca os tivemos.
E esse poder nos sejam confiados
e iniciar um novo caminho.
Juventude alemã: Melhor empenho
Junto com todo o povo,
E assim uma nova vida à Alemanha.
E um sol que como nunca
Brilhou na Alemanha.

Letra e tradução extraídos da Wikipédia em português.