quinta-feira, janeiro 5

239. Olor eqüino

Nunca compactuei com os Militares, além do mais, nasci sob a égide do último e mais obtuso Presidente do período o Excelentíssimo General João Baptista Figueiredo, ou seja, o período da manteiga e da anistia dos Anos de Chumbo. Mesmo nunca tendo com eles concordado ou jamais feito apologia a um regímen tal, o Presidente Figueiredo, personalidade assaz controversa, tinha eventualmente alguns arroubos de lucidez e bom senso. Circula boca-a-boca que certa vez ele disparara uma frase como: «Prefiro o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo».
Sou obrigado a dobrar-me em reverência a comentário tão rico e espirituoso; realmente, uma estrebaria cheira melhor do que um vagão de metrô lotado. Não exatamente o «cheiro físico» (noves-fora esse), mas o «cheiro social», por assim dizer. O povo – palavra essa que no português variante brasileira é obrigatoriamente pejorativa – cheira mal, não porque não faça uso de fortíssimos perfumes da Avon ou loções pós-barba que cheiram a panetone mofado, isso são vícios do mau-gosto e da falta de bom-senso, e esses últimos dois quesitos, sim, são a nossa podridão, fora a nossa já habitual falta de educação e a tendência assustadora para assuntos prosaicos e fúteis.

O mau cheiro vem dos péssimos hábitos culturais (?) do povo, que se volta servilmente a uma postura de pôr o trabalho, a «carreira» acima de tudo. Girando em volta do dinheiro, sempre. O povo comporta-se realmente como grei: pasta, rumina e evidentemente deixa aqueles imensos discos de excremento por onde passa.
Os hábitos culturais – aqui friso hábitos culturais como mera categoria abstrata – resume-se a churrascão de carne vagabunda, regado a cerveja e acompanhamento musical altíssono. Aïnda se faz questão que mostrar à vizinhança a qualidade dos gostos musicais, manifestações populares autênticas de nossa cultura, portanto, desprezíveis.
O povo é pobre. A pobreza financeira é um dos aspectos menos relevantes; o que me incomoda é a pobreza moral e social, ou seja, temos um povo composto por espíritos-de-porco em sua grande maioria. Falava-se, à época do Império Romano, do Genius Populi Romani, ou seja, o gênio da raça, o Volksgeist; nós ficamos no máximo com a Estupidez Coletiva.
Apesar da farda e dos galões, General Figueiredo tinha razão, e eu também prefiro os cavalos. E cada povo tem o Presidente que merece.

1 Comentários:

Blogger Mónica disse...

modera os comentários

domingo, janeiro 22, 2006 8:13:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home