sábado, fevereiro 18

263. Espanha de charanga e pandeiro


Joan Manuel Serrat tem um disco, dos seus primeiros, chamado Dedicado a Antonio Machado (1969); Serrat em linhas gerais é todo bom, não há nada desprezível em sua longa discografia, mas esse disco destaca-se entre todos, tanto pela música quanto pelas letras, e, como o nome indica, é dedicado a Antonio Machado que algum tempo depois, descobri ser um poeta andaluz. Deixei de lado tal informação, tanto em conteúdo quanto em importância, até que nessa última semana, quando lia os Cadernos de Lanzarote II, de José Saramago, dou de cara com citações sobre Machado, que acabaram por reacender a minha curiosidade. Sempre preferi a prosa à poesia; certo que me aprazia também a poesia: Drummond, Bandeira, Leopardi, mas nunca tinha conseguido escolher um por predileto.

Tamanha curiosidade, que me abreviei o máximo que pude o almoço de ontem e pus-me à biblioteca da Faculdade de Letras, a garimpar algo; evidente que o famoso sistema de busca electrônica de livros da Universidade pouco ajudou – sempre o achei excessivamente falho – e fui obrigado a procurar algo do jeito de mais gosto: garimpando nas estantes; como já sabia onde ficavam as partes de literatura espanhola, lá fui e comecei a procurar; primeiro apareceram uns livros de crítica e uns trabalhos sobre poeta, e eis que, desvela-se numa prateleira escura e poeirenta toda a obra completa de Antonio Machado. Puxei um volumezinho compacto, encadernado em verde, impresso en los talleres de Printer industria gráfica, sa de Sant Vicenç dels Horts, el día 25 del mes de Noviembre de 1982. Uma leve folheada já me foi suficiente para identificar várias das letras contidas no disco de Serrat, como o profético Proverbios y cantares, LIII:

Ya hay un español que quiere
vivir y a vivir empieza,
entre una España que muere
y otra España que bosteza.
Españolito que vienes
al mundo te guarde Dios.
Una de las dos Españas
ha de helarte el corazón.

Ou o começo de El mañana efímero, presente tanto em Serrat, na última faixa, - onde se mescla com a Parábolas, III – ou em Poema de emerxencia para Antonio Machado, de Xerardo Moscoso onde também é recordado, em galego:

A terra da charanga e dos pandeiros […]

Que vem de:

La España de charanga e pandereta,
cerrado y sacristía,
devota de Frascuelo y de María,
de espíritu burlón y de alma quieta,
ha de tener su mármol y su día,
su infalible mañana y su poeta.
[…]

E a Parábolas, III:

Érase de un marinero
que hizo un jardín junto al mar,
y se metió a jardinero.
Estaba el jardín en flor,
y el jardinero se fué
por esos mares de Díos.

Por ora, os meus conhecimentos sobre o poeta andaluz resume-se a umas poucas leituras, as quais pretendo aprofundar, e me parece muito válido conhecê-lo. E a poesia conjugada com música, já se sabe o ótimo resultado que dá.

3 Comentários:

Blogger Orlando Tosetto Júnior disse...

Antonio Machado é um dos poetas favoritos do Olavo de Carvalho, mas não deixe que isto o previna contra ele, porque é bonito sim. A respeito do escrépe: amanhã a menina faz aniversário; apareço na terça.

domingo, fevereiro 19, 2006 9:16:00 da manhã  
Blogger Sérgio disse...

Acredito que messer Olavo tenha se enganado em sua selecção pessoal, me parece muito estranho...

domingo, fevereiro 19, 2006 12:56:00 da tarde  
Blogger Mónica disse...

garimpar nas prateleiras pode dar mau resultado! mas soa bem!
:-)))

domingo, fevereiro 19, 2006 1:53:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home