sexta-feira, março 10

276. Espanhóis, bascos e o mundo


Ao Samuel

A postagem abaixo (275) ficou praticamente três dias sem um único comentário, e assim permanece. Talvez isso reflita um pouco a falta de interesse pela Espanha e alguns aspectos próprios seus. Reflete um pouco até, do que pensam os meus co-nacionais sobre a Espanha e toda choldra que acorre aos agora tão populares cursos de língua espanhola (castelhana é mais condizente…). Lembro-me de certa ocasião, quando cursava ainda o Colégio técnico, eu tinha uma colega de sala que fazia o curso de Espanhol, aquele oferecido gratuitamente nas escolas estaduais. Do curso, ela tinha uma camiseta com o mapa da Espanha dividida em regiões; mas sempre que ela se punha a falar algo em espanhol, usava o sotaque portenho e dizia «papas» ao invés de «patatas» e outras coisas mais.

«Mas na sua camiseta tem o mapa da Espanha, porque você usa sotaque portenho?», perguntei um dia, por gracejo, esperando ouvir, alguma resposta coerente.

«Ué, o espanhol da Espanha é diferente?». Ora, é a mesma coisa dizer que falamos tal-qual aos portugueses, a língua é a mesma, mas os usos mudam. Se já falamos bem diferente do pessoal do Rio, que dirá do de Lisboa.

«Claro que é… oras!».

«A sua vó fala diferente de mim?» Ela sabia que a minha avó era espanhola, galega, para maior exactidão.

«Minha vó só sabe o espanhol de escola e o que ela teve de decorar do Cervantes…»

«Como assim? A sua vó não fala espanhol?!»

«Ué, vai me dizer que você acha que se fala só espanhol na Espanha inteira?»

«E não? Por acaso se fala francês na Espanha também? E se a sua vó não fala espanhol, como se comunicava na terra dela?!»

Evidente de diante de tais conclusões, retive-me ao máximo a oratória. Esquecida foi novamente, a probe xente galega.

E assim as coisas andavam e continuam a andar. Fala-se que se está aprender um pouco de catalão, por exemplo, e é quase a mesma coisa se fosse dito que se está a aprender esquimó ou suaíli; e o catalão é uma língua neolatina, como o nosso bom português, sensivelmente mais fácil que o francês, por exemplo. Chegaram a indagar-me já se a Catalunha localizava-se na Itália, visto que a pessoa que me fez a pergunta sabia da minha opção pelo italiano na Faculdade.

Lembra-me também minha mãe, quando discutíamos certa vez sobre algo relacionado à Espanha e a conversa caiu no ETA. Falei de algumas diferenças entre o País Basco e o restante da Espanha em geral, enfatizando a questão da língua.

«Mas o dialeto é tão diferente assim?»

«Dialeto?! O basco? Dialeto de que?»

«Do espanhol, oras!»

«Mãe, o basco não é nem indo-européia, que dirá latina… ou melhor, nem se sabe se pode ser considerada indo-européia… já se falava basco na península antes da expansão celta e evidentemente antes dos Romanos, do latim e do castelhano…»

Mostre-lhe um texto impresso, numa coluna, escrito em espanhol e na coluna vizinha em basco…

«Nossa, isso não dá pra falar… quantos kk…? Tem gente que usa isso?»

«Tem sim, mãe… claro que tem…» disse entre suspiros e afastando-me.

Evidente que são exemplos isolados e tirados da minha vivência, mas idéia das gentes é mais ou menos essa: vêem uma Espanha monolítica lingüisticamente (castelhano)

Certa vez, acusaram-me de monotônico, por causa dos assuntos ibéricos; mas se ninguém fala, quem vai falar? E é isso que dá só pensar no dinheiro para o bife e deixar o resto de lado. Que me acusem de monotônico e excêntrico, não quero fazer mesmo parte da maioria: nunca foi meu objetivo ficar dentro da «média», que evoca medíocre.

E o «assunto espanhol», uso-o de metáfora quase, antes fosse somente o desconhecimento sobre as coisas de Espanha. Hoje em dia, por causa das pressões e falta de tempo, simplesmente ignora-se tudo quanto «não interessa». E o que mais me irrita é, quando você se dispõe a dizer algo, acreditando que está a colaborar com a pessoa (pois é assim que vejo quando alguém me diz algo, relata-me coisas e fatos) e ela simplesmente desdenha e dá pouca importância. Assim segue o mundo: de mal a pior; e é o que alguns (vocês já devem fazer idéia de quem, aqueles quens nebulosos e poderosos: os donos do banco no qual você tem conta, dos monopólios de softwares, que movem as guerras por interesses econômicos, e que lhes fazem consumir tudo o quanto) preceituam: continuem a ler a cartilha deles; são as velhas trevas ressuscitando.

P. S.: aproveitando, caso alguém tenha problema em discernir o que é a fotografia.

5 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

eu acho que já cheguei a comentar contigo que eu me surpreendo da espanha ser um único país, e exceto pelas eventuais sandices do eta, um país estável.

sexta-feira, março 10, 2006 9:50:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

aliás, falando em bascos:
http://www.lasbibasfromvizcaya.com/

(você vai ODIAR isso, mas eu não podia deixar passar ;)

sábado, março 11, 2006 10:48:00 da manhã  
Blogger Camila Rodrigues disse...

no meu caso, não comento por antipatia...
costumo ser intratável a esse ponto (risos)

sábado, março 11, 2006 11:26:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Dani,
Realmente; eles são estáveis hoje (vide Guerra Civil Espanhola) e quem segura as pontas é a figura do Rei.
Sim, eu odiei... rs.

Camila,
Hum...

domingo, março 12, 2006 1:28:00 da tarde  
Blogger Miquel Boronat Cogollos disse...

(Unes notes en català, que deu ser fàcil d'entendre per als lusoparlants, de la mateixa manera almenys que jo entenc el portugués.)

La situació que descrius, Sérgio, la podem trobar a l'estat espanyol mateix, per exemple, cap a la banda de Castella. Siga com a impostura o sincerament, hi ha persones que mostren incredublitat i sorpresa en assabentar-se que hi ha «espanyols» que no parlen en espanyol durant mesos --com jo mateix-- i que viuen tan tranquil·lanent. A voltes diuen que els sembla que ho fem només per molestar...

Això sí, pels «països subsidiàriament espanyols» usem passivament l'espanyol quotidianament: quan establim un diàleg en dos llengües amb hispanoparlants que entenen --però no parlen-- les nostres altres llengües --fet habitual als territoris on el català és oficial: Catalunya, País Valencià i Illes Balears [i Andorra, estat independent]-- o quan usem els mitjans d'informació en espanyol. (S'esdevé una cosa semblant a altres territoris on el català és llengua pròpia: Aragó, Múrcia i l'Alguer [Itàlia].)

Qui pense que Espanya és uniforme culturalment o lingüísticament, és que no coneix Espanya realment o que consumix massa propaganda generada des dels centres de difusió de l'«espanyolitat mal entesa», que tenen una llarga tradició acultural i antidemocràtica en els centres del poder estatal (i derivats).

quinta-feira, março 16, 2006 7:52:00 da manhã  

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