sexta-feira, março 17

280. Social-democracia e hepatite

Palácio do Planalto, Brasília

Aparentemente, são termos que pouco têm a ver. Se associados há uns cinqüenta ou sessenta anos atrás, seria motivo de celeuma. Mas hoje, no nosso país sem espectro político, pois todos os partidos comportam-se da mesma maneira, ao sabor das vagas do Grande Capital, essa afirmação faz-se por associação.
O Partido da Social Democracia Brasileira, mais conhecido pela sigla PSDB associou o seu ideário de cunho neoliberal (que de social-democrata não tem nada) com a infeliz escolha do amarelo para as flâmulas e material partidário, ou seja, a cor do partido em si. Não bastasse a cor infeliz, o animal totêmico escolhido é um tucano, que para mim, ao menos, nada significa: um tucano não é uma águia, não é um pica-pau, nem uma galinha; animais que temos em associação de que fazem ou são algo em especial: altivos, danificantes ou botadores. E um tucano? O que faz um tucano? Nada. É um pássaro que sobe na galhada das árvores do Pantanal e de lá de cima, olha o movimento – ou a falta dele – tão-somente. E assim se comportaram os tucanos no poder, os dois governos Fernando Henrique (1995-2001), simplesmente deixaram as coisas correrem: uma política econômica sufocante, arrochos salariais, descaso com o patrimônio público e uma sistemática e prejudicial política de desestatização (o exemplo mais notório é o das ferrovias: ruim com o Estado, pior sem ele).
O ainda vigente governo Lula, apesar das expectativas de ser um governo de esquerda (esquerda mais verdadeira, pelo menos à primeira vista), decepcionou muito o eleitorado, e no pior sentido: deu continuidade á política econômica do Governo anterior – se bem que as privatizações diminuíram a velocidade.
Bem, o que quero ressaltar não é quanto tem sido cretina e menefreguista a política do Brasil, mas sim a sanha amarela.
Já em ano eleitoral, começam a levantar-se os candidatos para o primeiro turno. A nossa social-democracia resolveu lançar mão do seu quadro paulista, e indicou para candidato à Presidência da República, ninguém menos que o atual Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckimin – maliciosamente chamado de picolé de chuchu por um ferino cronista, mas alcunha muito justa. E para o suceder no Governo do Estado, indicou-se o atual Prefeito da Capital paulista, José Serra. Os tucanos estão tentado fazer-se águias novamente, querem a Presidência e o Governo do Estado mais rico da Federação. Poder e dinheiro; o lugar comum é quase inevitável.
O que mais tem irritado no comportamento do tucanato é a péssima pose de oposição. São notórios os escândalos dos governos fernandinos – eximo-me de citá-los; e no atual governo, passados à oposição e aproveitando-se do prato-cheio que foi o escândalo do Mensalão – que até agora reverbera pela imprensa – os tucanos comportaram-se como duas outras aves: primeiro, gralhas, e depois, urubus.
Também ao nosso governo rosa-socialismo-de-butique mostrou bem o famoso adágio: o poder corrompe; além do fato já citado de continuar a seguir a cartilha dos governos anteriores, vão seguindo a linha riscada pelos donos do dinheiro.
É engraçado, mas qualquer partido que suba ao Planalto será exatamente a mesma coisa; pode dizer-me comunista, social-democrata, trabalhista, democrata-cristão, direita, católico, integralista: todos iguais. Isso se nota pelos discursos, todos curtidos no mesmo molho sonso do bom-mocismo afetado, das palavras moles angariadoras de votos, um sutil populismo e uma sorridente demagogia amainada. Nossos políticos nem de retórica entendem mais; uniformizaram até os discursos.

6 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

eu fico imaginando o que uma heloísa helena faria na presidência. não que isso tenha qualquer chance de acontecer, não penso sequer em votar nela. mas seria interessante de observar, nem que fosse só como fenômeno antropológico.

se ela amansasse, como o lula, ou qualquer outro "radical" que sobe ao poder, diriam que ela não tem pulso firme pra governar, que isso é serviço de homem. ninguém ia levá-la a sério.
se ela resolvesse ser macha como é em discurso, hoje, diriam que ela é uma vagabunda malcomida entrando na menopausa (mais ou menos o que falavam da marta). e ninguém ia levá-la a sério, também.

eu até pagava pra ver. mas meu candidato do coração é dom sebastião.

sexta-feira, março 17, 2006 4:59:00 da tarde  
Blogger Érico disse...

Não esquecer que - diz-se - o tal picolé saiu das forminhas da Ocus Dey. E que já se pôs a falar de família e de tradição. Isto é, nem precisa, como o senhor tão agudamente aponta, glosar a Propriedade, esta sim a Grande e Inquestionável Divindade. Seus autorizados avatares: Bancos e Demais Instituições Financeiras.

sexta-feira, março 17, 2006 6:45:00 da tarde  
Blogger Mónica disse...

(pesetas)

sábado, março 18, 2006 2:55:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Dani e Érico,
Se a Heloísa Helena sai candidata, tem o meu voto; o picolé de chuchu, jamais.

Sem Cantigas,
Tem uma postagem dedicada ao assunto controverso.

segunda-feira, março 20, 2006 11:56:00 da manhã  
Blogger Jeferson Ferreira disse...

putz, é mesmo, o sebastianismo...

segunda-feira, março 20, 2006 9:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

A cada dia que passa encontro mais e mais pistas sobre o famigerado livro dos discursos. Todos os políticos ganham um. (mas é segredo). Ele já foi lido, por todos, desde o militarismo (argh!) e continua sumido.... Irei, um dia, expor esse "crack" que vicia e corrompe todos que ali chegam e aí sim, ficarei RICA.
(momento de delírio)
Beijo, Susi

quinta-feira, março 23, 2006 9:52:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home