sexta-feira, abril 28

300. Feliz dia do Trabalho

Gosto não se discute, não é?

quinta-feira, abril 27

299. El meu amic, el mar

Tiradentes (21 d'abril) a la platja.

298. A felicidade é amarela

Chegou, chegou! Na última segunda-feira. Agora temos diversão para um bom tempo.

segunda-feira, abril 24

297. 25 de abril

terça-feira, abril 18

296. Curta fábula urbana (III)

(ao Orlando)

De raios e blasfêmias


Levantou-se. Ao invés de pisar nos chinelos, deu um pisão no gato, logo cedo. «Merda!» No banheiro, a maldita da válvula do vaso disparou; teve de correr até o registro e fechá-lo. Abriu a geladeira, para pegar o leite, as maçãs caíram todas aos seus pés; a mãe levantou: «Mas que diabo! Será que você podia fazer menos barulho? Os outros estão dormindo!». Saiu de casa amuado. Perdeu o ônibus; conseguiu pegar o seguinte, mas teve de viajar na porta, com o vento gelado nas costas. No metrô, uma fila imensa para passar as catracas; vagões lotados. Na hora de descer, esbarrou acidentalmente numa moça e por isso ganhou o epíteto de safado, uma bolsada e uns pontapés duns marmanjos, noves-fora. Finalmente chegou no escritório: a carta de demissão estava sobre a mesa. O chefe nem apareceu, não queria nem dar satisfações; antes que saísse do recinto, o telefone tocou: era a noiva. Rompeu o noivado pelo telefone. Saiu pela calçada atordoado e escutou uma música de piano, vinha duma loja de instrumentos. Parou diante da vitrina e ficou a olhar para dentro, uma moça tocava piano; não durou muito tempo: um ciclista trombou consigo e caíram os dois pela vitrina, estourando o vidro. Ele ficou caído do lado dum clarinete e cercado de cacos de vidro, olhando para o ciclista. «Idiota!», rugiu o ciclista montando na bicicleta. Chegou o dono da loja, viu-o caído: «Imbecil, olha o prejuízo que você me deu! E pela sua cara, não deve ter onde cair morto! Olha só essa barba mal-feita, seu desocupado! Desanda, desanda antes que eu chame a polícia!». Havia perdido o emprego não tinha quinze minutos e já estava com cara de desempregado?! Andou umas três quadras e parou diante duma banca de jornal; resolveu comprar o jornal para ver os classificados – quem sabe não arrumava um emprego hoje mesmo. Pagou o exemplar e foi sentar-se num banco de praça para poder ler. Tomou uma carga de pombo no ombro direito. Pôs-se a ler, mas logo um pé-de-vento fortíssimo que começou do nada, rasgou a folha que estava na sua mão e levou as que estavam apoiadas no banco. Saiu correndo atrás das folhas voadoras. Alguém, dalguma anônima janela dum prédio de apartamentos cinzento, berrou para baixo: «Porco, suíno! Na sua casa não tem lixo?!». Correndo, acabou por invadir a avenida; o caminhão de melancias que vinha subindo a ladeira desviou dele por um triz – ou ele que desviou do caminhão? «Animal! É cego, sua besta-quadrada?!» soltou o motorista do caminhão. Acabou por perder as folhas, que se enfiaram por uma rua como pássaros sujos fornicando no ar. Tomou a ladeira no sentido descendente e além do forte vento, que empurrava o seu corpo, logo percebeu que começara a escurecer subitamente; logo ia desabar uma tempestade daquelas que há muito não se via. Esquecera o guarda-chuva em casa, o jornal se lhe voara e observou que a longa rua pela qual andava, a ladeira que agora era um plano, não tinha uma única loja com toldo, ou uma marquise sob a qual ele pudesse esconder-se ou reparar-se. Começaram os raios e os primeiros pingos, grossos como cusparadas: «Deus está cuspindo em mim! Porco!», pensou consigo. Não havia ninguém na rua acossada pela chuva que caía agora a cântaros. De raiva, no meio da rua, da chuva e do vento, começou a dar saltos e chacoalhar os braços como um sandeu. Logo começou a gritar desarticuladamente. De improviso, virou-se para o céu e apontou: «Culpa tua! Infame, infame! Miserável onipotente! Me odiai? Então me fulminai, puta-que…».
Ele não acabou a frase. Segundo as testemunhas indagadas pelo Serviço de Óbitos, ele pulava e berrava horrivelmente pela rua, quando um raio o atingiu.
Moral da história: toda paciência tem limites.

domingo, abril 16

295. Tradução progressiva: «Baixel da Grécia»

Tradução dedicada à minha Musa Insolente.

Baixel da Grécia

Se nas manhãs, virem passar um baixel
beijando as águas do mar berço dos deuses,
façam-lhe sinal, para que possa ver onde estamos
e navegar conosco para o norte.

Se não leva rede, nem quilha, nem timão,
não pensem nunca que esteja tudo perdido,
que o povo sempre poderá inflar o velame
para ganhar as ondas feitas de medo e de sangue.

Baixel que choras tal-qual chora o meu,
que trazes a pena e a dor que traz o meu,
baixel da Grécia, que não te afunde o trovão,
infla as velas que vamos ao mesmo porto.

Vaixell de Grècia

Si per les albes veieu passar un vaixell
besant les aigües del mar bressol dels déus,
feu-li senyal, que pugui veure on som
i navegar amb nosaltres cap al nord.

Si no duu xarxa, ni orsa, ni timó,
no penseu mai que ho hagi perdut tot,
que el poble sempre podrà inflar el velam
per guanyar onades fetes de por i de sang.

Vaixell que plores igual que plora el meu,
que duus la pena i el dol que porta el meu,
vaixell de Grècia, que no t’enfonsi el tro,
infla les veles que anem al mateix port.

(L. Llach, do disco I si canto trist, 1973)

sábado, abril 15

294. La vecchiaia è brutta

«Mira, que as tampas dos meus potes de vidro estão todas enferrujadas! Como pode?»
«É, você está ficando velho...»

quinta-feira, abril 13

293. 14 de abril


Aos caídos pela República, aos caídos contra a República; aos caídos de má vontade; aos caídos de Azaña, aos caídos de Franco, aos caídos da CNT, aos caídos do POUM, aos caídos asturianos, aos mineiros das Astúrias, aos caídos espanhóis, à República caída; e ao fim, ao meu avô, caído muitos anos depois da guerra, que não lutou pela República e passou a vida com crises de febre por causa da malária pega no Marrocos Espanhol, nos tempos da tropa. À paz.

quarta-feira, abril 12

292. Curta fábula urbana (II)

O pernil de porco

Jacó saiu de casa envolto num capote preto do pai. Apesar do calor de verão, seguia pela calçada envolto no agasalho. Caminhou e caminhou até chegar a porta duma churrascaria; hesitou a entrar e o maître já lhe fazia sinais de chamamento. Entrou. «O senhor quer que lhe guarde o agasalho?», perguntou amável o maître. «Não, não, estou melhor com ele. Obrigado», respondeu o suado Jacó. Sentou-se numa mesa isolada, atrás dum vaso onde havia plantado um coqueiro, e com as abas do capote levantadas, que lhe cobriam o rosto, virou o indicador da mesa: verde, livre para as carnes. Aproximou-se o primeiro garçom: «Picanha?», «Não, obrigado», rebateu Jacó. Mais um tempo, outro garçom: «Maminha a vinha-d’alhos, senhor?», «Não, ’brigado». Mais um tempo. «Lombo, senhor?», indagou o garçom a Jacó. «Lombo suíno?» indagou Jacó com os olhos avermelhados por detrás da gola do agasalho. «Sim-senhor: lombo suíno», «Então me dê um pedaço bem generoso…». Jacó observava o talhe da faca penetrando pela suculenta carne de porco, a gordura líqüida pingava copiosamente. O garçom, depois de cortar, deixou o pedaço fumegante no prato de Jacó e foi se afastando. Jacó mirava o pedaço de carne assustado. Tomou o garfo e a faca. Olhou de novo para o pedaço. Levantou a mão para outro garçom. «Sim?», «O senhor me faça a gentileza de trazer uma água tônica, por favor», «Pois não». Agora com um copo de água tônica, garfo e faca, Jacó corta um pequeno pedaço da carne já não tão mais fumegante. Olha para o pedaço espetado no garfo. Leva-o próximo ao nariz, sente o olor. Algumas pessoas, à distância estão observando o estranho comportamento do rapaz enrolado num capote – e com um calor daqueles! Jacó simplesmente enfia o pedaço na boca e mastiga-o com toda força; e viu que era bom. Começou a atacar com voracidade o que havia no prato e em pouco tempo saboreou cada centímetro cúbico de carne suína. Terminado, pagou a conta e foi para casa; dando de cara com o pai na porta, pega-o pela lapela do paletó e grita-lhe na cara, transtornado: «Eu não posso mais ser judeu!». Moral da história: nada vence a gula.

segunda-feira, abril 10

291. Curta fábula urbana

Joãozinho no metrô

Certa vez, Joãozinho estava no metrô. Eram sete horas da manhã, e o vagão estava simplesmente abarrotado; porém, Joãozinho sendo esperto, voltou até a última estação do Levante para poder ir sentado. Porém, no meio do caminho, entrou uma senhora de boa idade já; quando Joãozinho pensou em levantar-se para ceder o lugar – apesar de não estar sentado no proibido banco cinza – chegou outra senhora também de boa idade. «E agora?», pensou Joãozinho, «para qual senhora darei o assento?». Enquanto o bom Joãozinho pensava, chegou uma terceira senhora, nas mesmas condições das outras. Joãozinho não levantou a vista e inspecionava as senhoras pelo florido do vestido. «Serei democrático: já que não posso ceder o lugar para que as três se sentem, então continuarei sentado». Depois de chegar à igualitária solução, Joãozinho adormeceu numa soneca dos justos. O que é justo e elevado.

domingo, abril 9

290. Da Itália à Galiza

Uma tradução do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis para o galego.

Canto do Irmán Sol

Outismo, onipodente, bô Señor,
tuas son as loubanzas, groria, honore e toda beizón,
que a ti sômente, Outismo, ben debidas que son
e ningún home é dino do teu nome falar.
Loubado meu Señor con todal-as creaturas
e mais mellor ainda cô irmán Sol,
pol-o que a nós nos mandas o día e a calor;
é belo, rayolante e con grande esprendor,
de ti Outismo ten sempre a siñificación.
Loubado meu Señor pol-a irmán Lúa e Estrelas,
que no ceo fixeches craras, garridas, belas.
Loubado meu Señor, pol-o irmán Vento,
pol-o Ar, pol-as Nubens, a Calma e todo o tempo
pol-o que as creaturas das o mantenemento.
Loubado meu Señor pol-a irmán Auga,
que é útil, homildosa, ben preciada e casta.
Loubado meu Señor pol-o irmán Lume,
pol-o que aloumiñas as mourenzas da noite;
el é belo, xocundo, baril, lanzal e forte.
Loubado meu Señor pol-a irmán e nai Terra,
pois ela nos mantén decote e nos goberna.
e en adumo da os froitos con côres, flores e herbas.
Loubade e beizoade, ao Señor gracias lle dade
e servídelle decote con moi grande homildade.

Loubado meu Señor pol-os que perdoan pol-o teu amor
e terman a doenza e a tribulazón.
Benaventurados sexan os que as sofren en paz,
pois por ti Outismo coroados serán.

Loubado meu Señor pol-a irmán Morte do corpo,
que non hai home que poida fuxir seu atopo.
¡Ai de aqueles que morran en pecado mortal!
Benaventurados os que a tua santa vontade fan,
pois a morte segunda lles non fará mal.

São Francisco de Assis, tradução ao galego por Luís Amado Carballo (1901-1927)

quinta-feira, abril 6

289. Um (quase) conto de Carles Sindreu

Do escritor catalão Carles Sindreu, extraído de Lletra, portal de literatura catalã. Dedico a precária tradução aos meus amigos chocólatras.

Quase um conto

Esta tarde, a boa mãe falou sobre seus quatro filhos obedientes, estudiosos, e a senhora da loja embrulhou para ela, com papel de seda, seis bombons de chocolate, brilhantes, com um interior enigmático – talvez seja fruta cristalizada, ambrosia, noz ou avelã. Embrulhou-lhe seis, porque sabe que a boa mãe é louca pelos bombons e que não pode comer muito, somente de tempos em tempos, e consigo pensou: «Dois para ela e um para cada menino».
A mãe, com passo resignado, vai em direção ao ponto do bonde. Numa mão, o grande pacote dos sapatos usados e na outra o pequeno pacote das gostosuras. Atravessando uma praça deserta desembrulhou-o já duas vezes, fazendo farfalhar o papel de seda. Agora sente ainda mais forte o desejo, depois da retomada do passo.
«Ao maior, veja-se bem, agrada-lhe os bombons, mas… vou comer o seu… não vai ligar. É um menino tão bom…»
E desembrulha o pacotinho novamente.
O ponto está ainda mais longe. Então, toma uma rua estreita que tem um ligeiro declive.
«Meu Deus… E agora, uns sim e outros não… serei eu tão cruel a ponto de fazer distinções entre os meus filhos?»
E a santa mulher ia sempre deglutindo…
O bonde levou um bom tempo para chegar. Ela limpou os lábios pálidos com um lenço bordado. Pobre mãe, que leva uma vida de sacrifícios sem outra compensação, a não ser aquele furto pueril que comete a cada quinze dias contra seus próprios filhos!…
Quando a boa mulher pousa seu pé pesado no estribo do bonde de subúrbio, deixa cair dissimuladamente o papel de seda inútil que conteve os bombons. O papel de seda, amassado e trabalhado pela sua mão nervosa tornou-se uma bolinha branca e pequena – uma bola de pingue-pongue – que o vento vai levando entre o brilho dos trilhos.

Quasi un conte

Aquesta tarda, la bona mare ha parlat dels seus quatre fills submisos, estudiosos, i la senyora de la casa li ha embolicat amb un paper de seda sis bombons de xocolata, lluents, amb un interior enigmàtic —potser fruita confitada, neula, nou o avellana. Li n’ha embolicats sis, perquè sap que la bona mare es fon pels bombons que no pot menjar més que de tant en tant , i ha pensat: «Dos per a ella i un per a cada noi».
La mare, amb el pas resignat, fa via vers la parada del tram. En una mà el gros paquet de les sabates usades i en l’altra el petit paquet de la llepolia. En travessar una plaça deserta ha desembolicat ja dues vegades tot fent cruixir el paper de seda. Ara sent encara més fort el desig després de la represa.
«Al noi gran, ben mirat, ja li agraden ja, però… Em menjaré el seu… No s’enfadarà pas. Es tan bon xicot…»
I desembolica novament.
La parada encara és lluny. Ara enfila un carrer estret que fa una baixada ràpida.
«Déu meu… I ara els uns sí i els altres no… Seré prou cruel per a fer distincions entre els meus fills?»
I la santa dona segueix engolint sempre…
El tram ha trigat una bona estona a arribar. Ella s’ha eixugat els llavis pàl·lids amb un mocador sargit. Pobra mare que porta una vida de sacrifici sense altra compensació que aquell furt pueril que fa cada quinze dies als seus propis fills!…
Quan la bona dona posa el seu peu feixuc sobre l’estrep del tramvia de suburbi, deixa caure amb dissimulació el paper de seda inútil que contenia els bombons. El paper de seda, arrugat i treballat per la seva mà nerviosa ha esdevingut una piloteta blanca i menuda —una bala de ping-pong— que la ventada s’emporta entre la lluïssor dels rails.

De La klàxon i el camí (1931), de Carles Sindreu.

segunda-feira, abril 3

288. Volta a Arena

O Estado de São Paulo tem novo Governador desde sexta-feira, 31 de março, em substituição a Geraldo Alckimin que se licencia para concorrer à Presidência da República. Trata-se de Cláudio Lembo, até então, vice-Governador.
Totalmente estranho ao grande público - quase ninguém que elege os mandatários faz muita questão de saber quem são os seus vices - Lembo foi apresentado sistematicamente pelas capa e contra-capa do Diário Oficial do Estado. O conjunto de artigos ressalta bem a biografia profissional de homem público e versado em Direito.
«É bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, doutor em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, e também professor titular de Direito Constitucional e professor titular do Departamento de Direito Processual Civil. [...] «Na Prefeitura de São Paulo, exerceu os cargos de secretário dos Negócios Extraordinários (1974-1979), secretário dos Negócios Jurídicos (1986-1989), secretário de Planejamento (1993) [...]» (Diário Oficial de 1.º de abril de 2006, sábado)
Apesar de citar que o Governador pertence ao PFL e preside a sua seção paulista, omite-se sua filiação à Arena durante o Regime Militar, o que alguém mais arguto presume pela data em que ocupou essa secretaria dos Negócios Extraordinários do Município; nota ainda que o PFL é um dos filhotes da dissolução da Arena.
A existência de políticos e partidos oportunistas, como os citados, deve-se à Anistia de 1979, que anistiou ambas as partes, a oposição e os situacionistas. Não era mal que ocorresse aqui, o que tem acontecido na Argentina, de rever o passado, mas por cá, há a síndrome de pôr-pedras-sobre-o-assunto.

O Governador Lembo hasteando a bandeira do Estado.

sábado, abril 1

287. Bananas-de-pijama


É um bom epíteto para a dupla de políticos paulistas: a dupla de bonecos representantes duas bananas e sempre em pijamas do programa de televisão para crianças produzido na Austrália e apresentado também cá em Pindorama, representa bem os dois homens públicos. Pode ser também Sujo e Mal-lavado.
Não temos mais os generais-de-pijama da época do Regime Militar, mas a dupla de tucanos paulista: à esquerda Sua Excelência, o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao centro (com um copo de quê?), o nosso egrégio Prefeito, José Serra; já pendendo para a direita, uma garrafa de cerveja e na extrema direita (!) uma popular. Como já sabemos, Alckmin disputará a Presidência (deixando-nos no Governo do Estado o amorfo Cláudio Lembo) e Serra, o Governo do Estado (e deixando na Prefeitura do Ph. D. em mão-leve Gilberto Kassab). Entre os quatro da fotografia, eu votaria sem hesitar na garrafa de cerveja: me parece a mais capacitada para qualquer dos cargos em disputa.