terça-feira, maio 30

316. Meras coincidências

Sulla Topolino [...] adesso si va.

Ao Donato.

Qualquer ligação com a História Brasileira recente é mera coincidência. Evidente que os versinhos engraçadinhos podem ser lidos de várias maneiras: p. ex., se se troca «quarantasei» por «ottantasei», eis o plano Cruzado; ou por «duemilasei», ei-nos a atualidade.

La Topolino amaranto
(Paolo Conte)

Oggi la benzina è rincarata (1)
è l’estate del quarentasei (2)
un litro vale un chilo d’insalata,
ma chi ci rinuncia? A piedi chi va? L’auto: che comodità! (3)

Sulla Topolino amaranto…
su, siedimi accanto, che adesso si va.
Se le lascio sciolta on po’ la briglia
mi sembra un’Aprilia e rivali non ha.
E stringe i denti la bionda
si sente una fionda e abbozza un sorriso con la fifa che (4)
c’è in lei
ma sulla Topolino amaranto
si sta ch’è un incanto nel quarentasei…

Bionda, non guardar dal finestrino
che c’è un paesaggio che non va:
è appena finito il temporale e sei case su dieci sono
andate giù; (5)
meglio che tu apri la capotte e con i tuoi occhioni guardi
in su
beviti sto cielo azzurro e alto che sembra di smalto e
corre con noi.

Sulla Topolino amaranto…

Topolino…Topolino…

(1) «Hoje a gasolina aumentou [...]» quem não se lembra os anúncios do aumento dos combustíveis feitos nos telejornais: «o preço dos combustíveis será reajustado em 25,3% a partir da meia-noite da próxima quarta-feira...» e formavam-se aquelas filas homéricas diante dos postos.
(2) Pós-guerra imediato, os primeiros meses de 1946.
(3) Bem paulistano isso: «Automóvel, que comodidade!». Comodidades que entopem as ruas todos os dias.
(4) O carro é atacado por uma pedra lançada por uma funda (!).
(5) Essa tempestade só pode ser a II Guerra.

Para ouvir.

Uma pífia tradução:

O Topolino grená

A gasolina foi reajustada
é o verão de mil-quarenta e seis (1)
um litro vale um quilo de salada,
mas quem é que não liga? E a pé quem vai? Carro: que comodidade!

E com o Topolino grená (2)
vamos, senta-te cá, que logo se vai.
E se no pedal eu piso forte
me parece um Sport e igual não há. (3)
E a Loira os dentes ajunta
se vê uma funda e esboça um sorriso com o medo que
ela tem
mas no Topolino grená
um encanto se está, em quarenta e seis...

Melhor que você não olhe pelo vidro,
Loira, é uma paisagem que não desce:
apenas terminou o temporal e seis casas em dez
vieram ao chão;
melhor que você abra a capota e com esses seus olhos mire
acima
admira esse céu azul e alto que parece de esmalte e
conosco vai.

(1) essa forma de pôr o ano é visível em uma música do Zeca Afonso (Portugal)
(2) amaranto não é exatamente grená, mas é próximo
(3) leia-se como «modelo esporte»; ao lugar da Aprilia; entretanto, em 1946, a Aprilia só fabricasse bicicletas

sexta-feira, maio 26

315. Serrat condecorado

Serrat recebe a medalha de ouro por mais de 40 anos de trabalho

Luis Pliego, do Periódico de Catalunya
Barcelona

Foi um ato simples e contido. Joan Manuel Serrat recebeu ontem (quarta, 24) a Medalha de Mérito no Trabalho (em sua categoria de ouro) no andar superior do Teatro Nacional da Catalunha (TNC), das mãos do ministro do Trabalho, Jesús Caldera. O cantautor foi condecorado por sua dedicação “al tajo”, que não deixou de freqüentar durante os últimos quarenta anos. Acompanhado por sua esposa, Candela Tiffon, o artista do Poble Sec conteve a emoção e desmistificou o mérito do trabalho.
“Custa-me encontrar as palavras de agradecimento e me custa superar os escrúpulos que traz à lembrança os tempos idos quando esta medalha associava-se à demonstração sindical”, assegurou Serrat, no teatro que anda abarrotado atualmente com o espetáculo do seu último disco, “Mô”.
No ato, além do Ministro e o Delegado do Governo, Joan Rangel, assistiram o prefeito Joan Clos, o Conselheiro de Cultura, Ferran Mascarell; a Conselheira de Bem-Estar Social e Família, Carme Figueras; o jornalista Luis del Olmo, e a vereadora (?) Katy Carreras. Todos assentiram as palavras de Serrat. “O trabalho não tem boa fama. O emprego sim, e o salário também. Porém, eu não vou engrandecer o trabalho. Nem sequer o cancioneiro tradicional o faz. Uma peça reivindica a saúde, o dinheiro e o amor, porém não diz nada sobre o trabalho”, divertiu-se.

BRINCADEIRAS À PARTE
Quando o autor deixou as brincadeiras de lado, confessou que na verdade a ele não lhe ficou outro remédio que trabalhar porque as canções não se escrevem “por osmose”. “O gênio e a inspiração não as compuseram por mim”, assegurou o músico.
E, enquanto sua esposa lhe concedia a medalha e o diploma, Serrat auxiliou sua intervenção. “Sinto-me como um menino a quem lhe dão um sorvete como prêmio por ter comido um chocolate”.
De sua parte, Caldera pronunciou fez colocações que ficaram entre o tom ministerial e o fervor do fã. “Este cenário simboliza seu trabalho. O labor que não deixaste desde que pegaste o violão e que faz com que as pessoas que te escutam sintam-se melhores. Ao som das tuas canções, o povo espanhol foi capaz de pôr mãos à obra para alinhavar novas formas de convivência”, afirmou o ministro do Trabalho. Para dar por encerrada a entrega, Caldera pronunciou um desejo em voz alta. “Eu, quando jovem, quisera ser como meu primo Joan Manuel”.

Mal traduzido do original em castelhano.

quarta-feira, maio 24

314. Defuntos do século XX


Pan-eslavismo

O plebiscito do último domingo em Montenegro, que selou o fado de Sérvia e Montenegro (que nome de país mais esdrúxulo!) foi a pá de cal no já há muito morto pan-eslavismo. Lembra-me que a última vez que vi tal palavra pelos meios de comunicação foi pelos idos de 1992 ou 1993, durante a deflagração da Guerra Civil Iugoslava. Não me deixa mentir a copiosa hemeroteca que eu juntava naqueles anos. O último resquício do que fora o outrora Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos – outro nome esdrúxulo e longo, e vinha até impresso nos selos – e posteriormente, Iugoslávia, dará adeus ao mundo em breve.

O próprio nome Iugoslávia – que soa muito melhor do que «Sérvia e Montenegro» - é oriundo das forjas pan-eslávicas: são os eslavos do sul (jug: sul em servo-croata). O pan-eslavismo em si, não era uma idéia das piores: preconizava a união dos povos eslavos – tchecos, eslovacos, poloneses, sérvios, croatas, eslovenos, russos, ucranianos e tantos outros – sob uma união política; uns queriam que fosse uma união sob o cetro do Czar de Todas as Rússias (inclusive o próprio Czar, o que lhe parecia muito conveniente), outros, queriam uma república fraternal. Distensões relacionadas com o pan-eslavismo acabaram por provocar a Primeira Guerra Mundial: a Sérvia estava sob domínio austro-húngaro e com base em idéias pan-eslávicas, os movimentos pró-independência tinham todos por base a ideologia pan-eslávica, inclusive a Sociedade (ou Irmandade, não me lembra bem agora) Mão Negra, de onde saiu Gravrilo Princip, o assassino de Francisco Fernando, arquiduque austríaco. As pretensões sérvias tinham um forte apoio: a Rússia imperial; o Governo de Viena interviu militarmente na Sérvia e provocou a declaração de guerra por parte da Rússia. Bateram-se de frente com outro agora defunto: o pan-germanismo, e eis o Império Alemão na guerra também.

A Primeira Guerra demonstrou a falência da idéia; ficou somente como embasamento teórico. Tanto que nações surgidas no pós-guerra, pelo esfacelamento dos impérios centrais, como a própria Iugoslávia e a Polônia, adotaram como hino nacional o «hino» do movimento, com letras diversas, mas a mesma música (e assim o é até hoje, é só ouvir os dois hinos).

No caso iugoslavo, é incrível que dois povos parecidos, misturados entre si, se odeiem tanto; foi a vontade de preponderância da Sérvia que condenou qualquer projeto de união. Na época imediatamente depois da queda do Império Austro-Húngaro, a Sérvia desempenhou papel preponderante na união e formação do novo reino, conseqüentemente, instalou-se uma Grande Sérvia, o que, evidentemente causou remordimentos entre as outras nacionalidades do reino. Durante a Segunda Guerra, os alemães fizeram a primeira dissolução da Iugoslávia e instalaram um estado-títere na Croácia (o seu chefe, Ante Pavelic, foi inclusive recebido pelo então Sumo Pontífice Pio XII). Os croatas da Ustase instalaram um regime de terror e fizeram os sérvios usarem uma braçadeira (como as dos judeus alemães), se não me falha a memória, bordada emazul com uma letra «P» (abreviatura de algum termo depreciador).

A Iugoslávia de Tito conseguiu manter o caldeirão sob fogo brando, cozinhando as diferenças étnicas no banho-maria; bastou a morte do Marechal, em 1980 para o começo do esfacelamento da República Federal Iugoslava, apesar de ferrenha e violenta resistência pela parte da Sérvia, caput iugoslaviae. Depois de um longo processo de sangria, com a Guerra Civil (1991-5), o esfacelamento da Federação em Repúblicas Autônomas (Croácia, Eslovênia, Bósnia e Macedônia), a ditadura pessoal de Milosevic, os problemas com a província autônoma do Kosovo (incluso aqui o bombardeio da OTAN e a ocupação da província por Forças de Paz), a mudança de nome do país, e agora, a contagem regressiva para o fim da Federação Servo-Montenegrina, o último resquício do pan-eslavismo.

Nota adicional: até hoje, a União Européia não reconhece a República da Macedônia com o nome que lhe é de direito, por oposição da Grécia. Segundo lido alguma vez em algum jornal, a Grécia tem receio que a República da Macedônia acabe tendo influência sobre movimentos separatistas da Macedônia grega. A forma oficial da Macedônia para a UE e para a ONU é FYROM (Former Yugoslav Republic of Macedonia; Antiga República Iugoslava da Macedonia); o governo de Atenas sugeriu à Macedônia que adotasse o nome de República de Skopje, nome da capital macedônia.

Oj, svjeta majska zoro (Ó, clara alvorada de maio), hino montenegrino. Letra.

terça-feira, maio 23

313. Cacareja, cidadão!

Comportamo-nos como galinhas assustadas, foi isso que aconteceu no último dia 15; fomos umas galinhas, como somos galinhas com tudo. Afinal, quem quer dar a tapa à cara? É mais fácil esconder-se, concordo, o medo nos domina. Mas não haveria bandidos suficientes para nos matar a todos. Mas como nem sabemos o que significa o sentimento de coletivo, aproveitaram-se disso; a ameaça foi como se tivesse sido desferida contra cada um de nós. Cada um só via a si mesmo morto e baleado. Os outros? Que se danassem!

Como me vêm falar de um país diferente, de igualdade social, de direitos civis, de uma sociedade melhor, sendo que em tudo, somos umas galinhas assustas. E se aproveitam disso, todos. Ficou patente porque foi o «poder paralelo» que manejou o cetro dessa vez. Mas o Poder Público – que elegemos para que nos represente – faz isso conosco todo o tempo! Quando muda algum dos mandatários executivos, não se sabe se determinados procedimentos permaneceram da mesma forma; ou que aquela novidade introduzida pelo prefeito em término de mandato será mantida – mesmo que ele seja reeleito. Da mesma maneira que a criminalidade nos atormenta com os projéteis, os nossos representantes nos ameaçam com leis e regulamentos, com o jogo de toma-lá-dá-cá. Haja vista a balbúrdia que é aprovar o Orçamento Federal todo ano.

Entre o Primeiro Comando da Capital e as agremiações partidárias, ultimamente, há muito pouca diferença. Ambos nos ameaçam. Experimente não ir votar, ou não se alistar no Exército, ou negar-se a ir trabalhar de mesário. Os dois poderes enfiam a mão no nosso bolso e não nos retornam nada: um, muito mais honesto, com uma arma ou um canivete apontado contra um; o outro, subtilmente, de pouco em pouco, uns centavos no quilo de feijão, outros no saco de arroz, uns diretamente da sua conta bancária. Os dois enfiam a mão no nosso bolso; são tecnicamente iguais.

O pior de tudo é a postura do Estado, baseado em conceitos do politicamente-correto, em fazer que nos sintamos responsáveis pela situação caótica. «A esmola é o imposto social pela miséria», o tanto que se arrecada em impostos nesse país, para onde vai? É a pergunta que escuto desde que tinha 5 anos; meu pai a faz, meu avô a fazia. Tanto se a faz, que virou já clichê.

O Estado, no modelo atual, na situação atual - e pelo menos cá, em Pindorama - é uma instituição morta-viva: morta para uma coisas e vivíssima para outras; para a cobrança de impostos por exemplo. E nós, tratados como galinhas de granja pelos empregadores - leia-se em abstrato, mesmo você, profissional liberal: produzam, produzam! - e pelo Estado - queremos os ovos somente... - dizem-nos, dizem-nos: «Cacareja, cidadão!»

312. Paranapiacaba


Paranapiacaba

Névoa – esconde, oculta.
Chuva – umedece,
lentamente dissolve
até as pedras
dentre as trevas
nunca devolve,
nunca oferece –
só a solidão que avulta.

Teus vagões não andam mais,
jamais verão novamente o cais.
Mortos, jazem no alto –
num movimento falto.
A umidade corrói o ferro,
a umidade corrói os anos,
a umidade rói a Humanidade.

O mundo se revolve,
em Paranapiacaba garoa,
molham-se os ferros já sem forma,
se forma uma nódoa de bolor,
verdacha de cor.

Corroem-se os vagões que não correm,
a garoa corrói o tempo
fixo no relógio da estação,
em Paranapiacaba,
um espectral fumo de carvão,
onde as horas úmidas
são sempre as mesmas.

* * *

Vão passando os anos,
lentos em meses e dias,
e noites de névoas frias
que arrefecem a tepidez
das casas de madeira.
Arrefecem a lepidez
dos velhos homens
que hesitam em fazer
o passeio matinal.
Ficam nas suas casas de madeira,
continentes um silêncio sepulcral,
continentes de suspensão,
em que a lenta sucessão das efemérides
é registrada em xilogravura
pelos dentes das térmites.

* * *

E logo, esse delírio britânico
de puxadores de trens
e criadores de trilhos
voltará a ser o que fora:
nada, o nada dissolvido na névoa.

sábado, maio 20

311. O amor nos tempos de cólera

O amor nos tempos de cólera
Alonso López Miranda

Pode ser que eu não saiba nada de poesia em si,
Porém, te faço um poema que vive no meu coração,
Pretendo descrever o brilho dos teus olhos,
O teu perfil cauto de sombras,
As tuas mãos que acariciam o meu tempo,
Os teus passos que ecoam na minha mente,
Só és poesia.

Tampouco sei de pintura,
Porém és o meu quadro perfeito;
Te observo com determinação e não
[posso esquivar o meu olhar do teu rosto,
Vejo cada sensação, cada sentimento em ti,
Cada vez atento ao que fazes ou não.

De música, nada sabia,
Até que chegou aos meus ouvidos as notas
[mais belas que nunca escutara:
o teu nome e a tua voz.
És toda a música que necessito cada manhã,
Cantando o teu nome na minha solidão.

Não sei nada de nada,
Apenas que és a minha poesia, a minha pintura,
[a minha música, o meu filme predileto...
És a minha arte, a minha vida.

Te amo.

* * *

L’amor en els temps de còlera
Alonso López Miranda

Potser no sé res sobre la poesia mateixa,
Però et fas un poema viu en el meu cor,
Intento descriure la brillantor dels teus ulls,
El teu perfil caut d’ombres,
Les teves mans que acaricien el meu temps,
Els teus passos que reboten en la meva ment,
Sols ets poesia.

Tampoc sé de pintura,
Però ets el meu quadre perfecte;
T’observo amb deteniment i no puc esquivar
[la meva mirada del teu rostre,
Veig cada sensació, cada sentiment en tu,
Cada vegada atent al que facis o no.

De música res en sabia,
Fins que varen arribar als meus oïdes
[les notes més boniques que mai hagi escoltat:
el teu nom i la teva veu.
Ets tota la música que necessito cada matí,
Cantant el teu nom en la meva solitud.

No sé res de res,
Només que ets la meva poesia, la meva pintura,
[la meva música, la meva pel·lícula preferida...
Ets el meu art, ets la meva vida.

T’estimo.

quinta-feira, maio 18

310. Dias de guerra

Jonne Roriz/Agência Estado/AE
«Está tudo bem, tudo sob controle», disse o Governador. «Dia normal», diz o Comandante da Polícia Militar. Agora, quem está na rua, tentando voltar a casa, usando o transporte público sabe muito bem que na prática, estamos nós, paulistanos como se numa cidade em guerra. As distâncias invalicáveis nos dividem, chega-se a uma estação e dá-se de cara com a incontornável realidade: sem lotação, sem ônibus; quem pode pegar um táxi, como eu pude – a duras penas, por certo – muito que bem, se não, tem de fazer quilômetros a pé, à noite em lugares já quotidianamente delicados. São Paulo transformou-se no Império dos Boatos: um único espalha o pânico e a afobação entre a população civil, pelas calçadas, respira-se às estocadas e um sai de casa pela manhã e não sabe se volta. Nunca a vida, a havíamos sentida tão precária: somos habitantes da maior cidade do país, a mais rica, centro financeiro e cultural do país. É hora do Governo do Estado descer do pedestal e tomar providências cabíveis e não mais jogar sobre nós toalhas quentes, paliativos.
Terça-feira pela manhã, eu ainda na casa duma amiga solidária – visto que não consegui atravessar a cidade e chegar à minha casa – pondo a louça dum café improvisado na pia, quando a Igreja de Santa Cecília começou um descompassado e tremendo repique de sinos que ecoou na minha cabeça como o anúncio do Juízo Final. Badaladas aos mortos.

Igreja de Santa Cecília (interno)

Uma cidade que esconde belíssimos tesouros como este, tem de ser defendida. Mais belezas escondidas aqui, de onde foi extraída a foto acima.

Una buona notizia? Sì, ce l'ha:



quarta-feira, maio 17

309. Paúra


Sim, é um italianismo cujo significado até então era somente uma definição de dicionário, equivalente ao límpido português medo. A imagem de ônibus incendiados e vidros quebrados e aços retorcidos por disparos, dá paúra; todas as preocupações quotidianas dão espaço à incerteza angusta e ao vazio de futuro que é o medo. Senti tudo isso ouvindo a Polícia a correr pelas ruas desertas o o facho do helicóptero iluminando a fachada dos prédios. Agora os paulistas têm um facto a mais para se orgulhar: 15 de maio de 2006, a Kristallnacht paulista. E se paura fa 90, segunda-feira, foi a 180.

sexta-feira, maio 12

308. Tempo de revolta

Nunca ele almoça só; almoça sempre com a lata de água tônica. Acompanhado ainda dos seus companheiros inseparáveis, o garfo, a faca e a melancolia, talha o sólito bife, passa o garfo pelo sólito purê de batatas. Observa as outras pessoas, que igualmente deglutem mudas alguma coisa. Ruído de talheres e copos, bem subtil. «Demà és el mateix», lembra-se ele do poema, «Amanhã é o mesmo». Não, não será. Enquanto estava no banheiro, imediatamente depois do almoço, jurou que segunda-feira jogaria o saleiro de vidro ao chão.

* * *

Mal de política externa: a Alsácia-Lorena é assunto mais que morto; as Malvinas estão escondidas pela névoa e o Rosselló está muito confuso. Além de tudo isso tem a Bolívia e seu Imperador Huevo Morales (trocadilho do Orlando, a debitar), que é um problema muito longínquo.

quinta-feira, maio 11

307. Sobre este blogue

Machadada: relatório executivo

Somos já referência no Google. Estamos entre os 10 primeiros resultados quando se trata dos Bananas-de-Pijama, batendo por lavada bufês infantis; estamos entre dos 10 primeiros resultados quando algum boçal procura na Internet «como fazer cerveja em casa» ou «como fazer um coquetel molotov»; em «como montar uma banda de pagode» somos os únicos na categoria. Quando o assunto é pomada para hemorróidas, por uma única referência, ficamos entre os vinte primeiros resultados.
As frases de defeito foram postas durante a era do cata-corno, adaptado dos Malvados; visto o sucesso do instrumento, cogitamos a possibilidade de voltarmos a usá-lo.

Cordialmente,
o Diretor de Administração de Recursos Não-contabilizados.

Machadada: relatório técnico

Pela inaptidão do distinto Administrador, o código-fonte desta página é pior que uma colcha-de-retalhos. O modelo fornecido pelo servidor (o Blogger) é adaptado mal e porcamente para inclusão dos enlaces (links) e outras miudezas irrelevantes, como o cretino relógio no alto da coluna direita. Fora a categoria de enlaces assaz irrelevantes.

Distintas saudações,
o Secretário-Interino de Recursos Numéricos em Francês.

Machadada: análise relatorial

Os textos publicados, quando do próprio douto Administrador são de uma empáfia tão grande e de tão grande inutilidade, que não merecem sequer essa menção. Por inaptidão mental do administrador, os textos são escritos num português quase ilegível que, por suas características ortográficas e peculiaridades absurdas, logo será ininteligível aos outros falantes da língua, condenando este blogue ao ostracismo numérico.

Egrégios saúdos,
o Estenógrafo da Mesa Diretora da Comissão (técnico de nível secundário nível IV).

Machadada: soluções propostas

Deveriam ser incluídas, no corpo das postagens, devidamente postas na mesma cor do fundo da página, palavras-chaves relacionadas a pornografia, piadas/anedotas, nomes de celebridades, linguagem administrativa, procedimentos de cursos de vendas, nomes de empresas e/ou instituições que estejam em voga, principalmente em associações. Por exemplo: «Petrobrás, Evo Morales, Bolívia, gás». Usar também nomes de fitoterápicos famosos e remédios que estejam em voga: «Ginseng, Gingko biloba, Prozac, Gardenal»; ou indicações de tipo cretino como «traduzido do checheno», «original em servo-croata».

o Diretor do Departamento de Tradução de línguas fino-úgricas, e bibliotecário interino da Hemeroteca de Receitas de Carne de Carneiro.

Machadada: parecer final da Comissão de Mudanças Aleatórias

Considerando o supra mencionado, as sugestões dos pareceristas são coerentes e condizem com a realidade do blogue. Todos os pontos elencados foram discutidos com graça e elegância pelos pareceristas, num estilo leve, compreensível e fluente; principalmente na apresentação oral das propostas, feitas em falsete acompanhadas de tuba, junto com o pirófago (técnico de combustão nível II). Eu, como Presidente da Comissão e Administrador dessa egrégia pocilga, digo, porém, que permanece tudo como está e os pareceristas estão demitidos por justa causa. Fazer o favor de passar no Setor de Recursos Humanos até o final da tarde.

Grato,
o Diretor-Geral e Administrador Supremo.

terça-feira, maio 9

306. Curta fábula urbana (IV)

O repolho

Maria na feira, acostou-se junto da banca de verduras. Chamou-lhe a atenção particularmente uma volumosa e bela cabeça de repolho. Pensando na salada para acompanhar o jantar daquela mesma noite, deu o real e meio que lhe pediu o verdureiro pela cabeça. Alojou o nobre vegetal no carrinho, junto com as bananas e tomou cuidado para que ela não se lançasse acidentalmente sobre os maduríssimos caquis, caso a roda do carrinho viesse a cair em alguma irregularidade do passeio público. «Seria como se a Luftwaffe estourasse os caquis…», pensou Maria, que cuidadosamente foi puxando o carrinho para casa, observando bem a calçada para que a roda não enroscasse em alguma fenda que lhe desse trabalho para desalojar o carrinho.
Em casa, Maria começou a esvaziar o carrinho e ao tirar a cabeça de repolho, segurou-a com as duas mãos, numa atitude materna, e olhou-a cheia de ternura: «A mão de Deus certamente anda por essas coisas…». Suspirou e pôs o repolho na geladeira, junto com uma indigna couve-flor e um bastardo pé de alface. Pareceu que ali, entre as outras verduras, a cabeça de repolho fazia-se ainda mais viçosa, a ponte de parecer ter aumentado de tamanho. «Bela salada, bela salada!», pensava consigo Maria, excepcional dona-de-casa, rainha do lar, mãe de três rebentos, o modelo de mulher católica, fazia parte ainda da Liga das Senhoras da Paróquia e era sempre citada pelo pároco como exemplo de virtude.
O dia decorreu tranqüilamente, Maria terminou de limpar a casa, polir a prataria, tirar água do poço e tudo mais. Quando o arrebol do ocaso tingia a copa das árvores de vermelho, chegou João, marido-modelo. As crianças, que até agora brincavam com jogos de montar, correram a beijar o pai que, agradecido, abaixou para receber os beijos. Mesmo cansado de ônibus e com um emprego cretino, era sua alegria chegar em casa e saber que estava tudo bem.
Beijou a esposa pudicamente, perguntou do dia e o que havia ela feito de janta. Maria elencou todo o primoroso cardápio e citou a salada que faria de parte da esplendorosa cabeça de repolho que comprara na feira, pela manhã. As crianças, disfarçadamente, torceram o nariz. João enumerou para as crianças as nutritivas e salutares propriedades duma salada de repolho; as crianças o ouviram como ouviriam o avô Jonas roncar.
«Sentem-se todos à mesa que vou somente cortar o repolho e temperá-lo que já me sento com vocês», disse Maria. Todos tomaram seus lugares. Maria tirou a cabeça de repolho da geladeira e mostrou a família. Maria suspirou de alegria e parece que o repolho também tinha suspirado. Impressões, a mão de Maria oscilou junto com seu diafragma.
Maria apoiou a hercúlea cabeça de repolho sobre a tábua de carne, que estava já ali por ter sido o patíbulo das cebolas e sacou uma grande faca da gaveta dos talheres. Maria apoiou o corte da faca verticalmente junto da lateral direita do repolho e tirou-lhe o primeiro talho, fino e delgado. Nesse instante, começou um ruidozinho, fino, agudo e baixo. «Que é isso?» perguntou João. «Isso o quê?», retrucou Maria. «Esse barulhinho…». E o barulhinho agudo começou a aumentar e, com não pouca surpresa, a família apercebeu-se que o barulho, que de mais e mais alto era já um grito, vinha do repolho. «Mãe, mãe; repolho grita?», perguntou Miguel, o mais novo. «Claro que não!», impacientou-se Maria. O grito foi ficando mais alto e cada vez mais insuportável. «Meu Deus! O que é isso!» disse João, persignando-se. Maria não tinha palavras. As crianças correram para o quarto e certamente estavam escondidas. «Deve ser o Demônio, o Demônio está no repolho», berrou João.
O repolho emitia já um som tão alto que já havia curiosos na rua, defronte à casa. «Temos de fazê-lo parar», exasperou-se Maria, João sugeriu de pôr o repolho num saco plástico e assim ele morreria asfixiado. «E quem é que vai por a mão nesse repolho endemoninhado?, você, não é?!» berrou Maria apontando a faca a João. E o repolho continuava com seu grito estridente e contínuo. «Mas que horror! Ele não pára nem pra respirar!», considerou João, «Eu não vou pôr a mão nessa droga de repolho» e saiu correndo de onde estava, junto da porta da cozinha, com Maria, em direção ao quarto. O repolho continuava a berrar sobre a pia. João voltou com um revólver. «Não, você não pode fazer isso!», disse Maria, segurando a mão a João. «Quero e posso!», disse João dando um empurrão em Maria, fazendo-a dar três ou quatro passos para trás; empunhou a arma e deu três disparos certeiros no repolho, que imediatamente parou de gritar.
Não teve jantar naquela noite. Maria pegou uma mala, enfiou umas roupas nela, pegou as crianças e foi para a casa da mãe. Só, João ficou com o repolho agora silente; atacou a adega, bebeu a madrugada inteira e contou todas as suas desventuras até o fato do repolho para o próprio repolho, que jazia ali, na pia, espatifado. João e Maria se separaram. João virou um beberrão de marca maior e morreu durante uma sessão de eletro-choque numa clínica de reabilitação de alcoólatras, enquanto contava a história do repolho; Maria caiu na vida, foi vista na rua Aurora há algum tempo. As crianças, criou-as a mãe da Maria, que tinha uma prima que era Madre Superiora e as pôs num colégio religioso. Miguel, o menor, foi ser missionário em Uganda; André, o do meio, virou funcionário público e Maria Auxiliadora, a mais velha, passou a vida inteira perguntando-se o que aconteceu aos seus pais.
Moral da história: deve-se sempre olhar bem o que se compra para comer.

segunda-feira, maio 8

305. 9 de maio de 1945


Mandamos tropas para a II Guerra: queremos o feriado e a comemoração também.

sexta-feira, maio 5

304. Monumento

Sempre me vem à mente a imagem do Monumento da Independência, surgindo por detrás das árvores. Era o caminho da casa da minha avó, roteiro de domingos sonolentos e ensolarados. Eu pequeno, intrigava-me aquele prédio esquisito, de pedra da mesma cor das pedras que o meu avô colocara em sua casa; fora os conjuntos escultóricos, simulando batalhas – que anos depois, descobri que foram inspirados no quadro de Pedro Américo, que está no Museu, algumas centenas de metros acima. O monumento, com forma de pedestal e marchetado de bronze era – e é ainda – coroado por uma biga triunfante, que leva alguma das virtudes personificada: talvez seja a Temperança, a Liberdade ou a Verdade, alguma alegoria calcada nas representações romanas; que país engraçado que somos, uns romanos de cocar.
O monumento, é o nosso Ara Patriae, e conseqüentemente, assim como a flama eterna do Templo de Vesta, há uma chaminha da liberdade, bem diante do monumento, para quem o vê de frente, desde a Avenida Dom Pedro I. Está lá, uma luzinha amarelenta. E sabe como são as crianças; não podem ver nada de diverso que se põem a interrogar os pais à queima-roupa. E eu não fui diferente; certa vez, ainda num tempo para mim sem data, subíamos já a pista lateral da praça do Monumento no Chevette azul do meu pai, quando o carro parou no semáforo, e eu, olhando o monumento, reparei na chaminha, que me fez lembrar do meu tio, fumante desde sempre.
— Pai, que que é aquilo lá? – apontei com a mão para fora da janela do carro.
— Põe a mão pra dentro, moleque! – advertiu mamãe – Quer ficar sem mão?! Passa um motoqueiro e zás!, decepa a tua mão…
Encolhi a mão, mas não a pergunta.
— Mas o que é aquilo ali?
— Aquilo o quê? – falei pondo novamente a mão para fora do veículo em movimento.
— Põe a mão pra dentro, Sé! Eu já não avisei?! – Virou-se a minha mãe para me dar a bronca à sua moda, olhando nos meus olhos. Amuei-me no canto, mas combativo ainda…
— Mas… mas… o que é aquilo?
— Aquilo o que?! – desvirou-se minha mãe.
— Aquele foguinho…
— Foguinho? – girou a cabeça ao redor – Que foguinho?
— Aquele… aquele ali. – E pudicamente estiquei a mão, sem a pôr pela janela.
Minha mãe olhou pela janela do motorista, através do meu pai.
— E eu que vou saber?!
— Aquilo – finalmente manifestou-se o meu pai – é uma chama sagrada…
— Sagrada?! – Já pensei eu em igreja, da qual eu me pelava de medo quando menor, pois durante a missa, eu não podia mover-me que alguém logo avisava “que igreja é lugar de respeito”, “que se deve estar quieto na igreja”, e a cara enfadonha e sisuda dos santos e a expressão sofrida de Jesus na cruz, faziam-me achar que o Padre batia nas crianças mal-educadas com o incensório ou com o atril… - Sagrada? Igual às velas que tem na igreja?
— Não… é um tipo diferente de sagrado… não é sagrado nesse sentido… não é sagrado de igreja, mas sim de pátria. - Respondeu calmamente meu pai.
— É sagrado de que?
— Hum… é na verdade simbólico… representa a independência, aquela chama…
— Ah, a independência…
— Isso… igual na escolinha, quando você foi o Pedro I…
— Eu não fui o Pedro I… escolheram o André que tem o cabelo mais escuro… a Professora disse que ele se parecia mais… eu fui o mensageiro… André… chato…
— ’Tá! Tudo bem… mas, em resumo, é aquilo. Aquela chama representa a Independência. Enquanto ela queimar, o Brasil continua independente e soberano…
— Soberano? – perguntei.
— É, soberano… livre, sem ter de prestar contas, como nós prestávamos a Portugal, entendeu?
— Entendi… mas o que que queima ali? A independência?
— Não, não é a Independência. A Independência não queima, é uma coisa que existe e não existe… não é igual uma pedra… não tem uma coisa que se chama Independência…
— A independência é igual a Deus? Que existe mas ninguém vê? A independência é Deus, pai? Pode-ser uma rocha, se não for uma pedra?
— Não, menino! Arre! Aquela chama só diz que enquanto ela ’tiver acesa, o Brasil não será dos portugueses… a idéia é exatamente essa…! – O semáforo ficou verde e carro lentamente começou a mover-se para pegar a lateral da Praça do Monumento. Fiquei olhando o Monumento girar-se e mudar os ângulos, sob o sol fulgente.
Uns meses mais tarde, já no outono, fazíamos novamente o percurso dominical e paramos no mesmo semáforo, e lá estava o mesmo monumento, que continua lá até hoje; só que o dia era dos típicos paulistanos: um céu plúmbeo e a finíssima garoa tão característica destas terras, o tipo de clima que muda a cor das coisas, das casas e dos prédios. O próprio monumento parecia mais escuro, envolto de cinza e úmido. Mirei na aberturazinha coberta e… onde estava a chama perene? Sumira…
— Olha lá, pai, onde ’stão os portugueses?
— Que portugueses, menino?
— Ali, ó! – apontei o nicho apagado, passando a mão sobre a cabeça do meu pai e pondo-a para fora do carro.
— Ô, põe a mão pra dentro, moleque! – berrou a minha mãe – querem que te cortem ela fora?!
Meu pai olhou o nicho.
— Ah, a chama? É que de vez em quando acaba o gás…
— Então a independência é movida a gás, pai?
— A Independência não é movida a nada, menino; de onde você tirou essa loucura?
— E não é o gás que faz a chama pegar fogo, pai?
— É.
— Então… e a chama não é a independência?
— Não, não é… digo, é e não é. Apenas representa.
— Mas apagou…
— O gás acabou… ou a garoa umedeceu o nicho e o bico de gás…
— Mas e os portugueses?
— Mas que português, homenzinho?!
— Que vêm quando a chama apaga…
— Não, Sérgio, eles não vêm…
— Não? Como não, se a chama apagou…
— Eles não têm interesse, nós somos economicamente inviáveis e politicamente insustentáveis…!
— Bem, pára com isso… - disse a minha mãe.
— Que venham os portugueses, pelo menos não são nem russos e nem americanos. Brezhnev… hunf! Francamente!
— Mas pai…?
— O que que houve, seu comunistinha? – disse meu pai vermelho (e ele nunca fica vermelho)
— E o foguinho contra os portugueses?
— Quando a gente chegar na sua avó, a gente põe fogo nela, que é espanhola… espanhol, português, dá tudo na mesma. Assim se resguarda a Independência e espanta os mosquitos.
— Ei, olha como você fala da minha mãe?! – vociferou mamãe desde o banco do passageiro.
— Sua mãe, a Independência, os portugueses, a União Ibérica, dom-pedros com bigodes de guache (bigodes de guache, meu Deus!), chaminhas e monumentos! Arre! Vocês dois, me deixem em paz.
Eu e mamãe não falamos mais até chegarmos à casa da minha avó.

quinta-feira, maio 4

303. Nevvero?

Charge de Bruno Bozzeto. Acredito que é desnecessária a tradução (agradecimentos a Ivy pelo correio com a imagem).

terça-feira, maio 2

302. Transmissão radiofônica

A vida tal-qual ela é.

Bom-dia, são exatamente seis horas e trinta e nove minutos – informação que pouco importa para quem tem relógio, ou no pulso ou na parede – o sol nasceu hoje a mesma hora de sempre – o que pouco importa para quem continua a dormir – e o tempo está nebuloso, com tendência à melhora no decorrer do dia – o que não importa nem um pouco aos vagabundos que continuam embrulhados quentinhos nos seus respectivos cobertores. A chuva da madrugada fez que com o Pinheiros, o Tamanduateí e o Tietê transbordassem, transformando a cidade num verdadeiro caos. A linha C da CPTM por conta das enchentes não está a funcionar – e tanto se lhe dá a quem não precisa sair de casa – e a linha 3, vermelha do metrô está paralizada de Itaquera até a Penha. A Companhia do Metropolitano já informou que os ônibus colocados para fazer o trajeto, accionados pela operação Paese da Prefeitura não estão dando conta; as autoridades e a Defesa Civil recomendam que só se saia de casa em último caso – o que pouco muda a rotina de quem não sai de casa. A cidade conta agora com mais de 300 quilômetros de congestionamento, as saídas da cidade estão totalmente paradas – o que importa principalmente a quem está a fugir das hordas de ratos que estão saindo das margens dos rios e pouco importa a quem tem helicópteros. Essas são as notícias desta manhã, voltaremos logo mais, às oito com mais um giro de notícias. Desejamos que esta terça-feira seja um dia repleto de alegria. A todos, um bom-dia.

Nota extra: eu recolheria o nosso embaixador da Bolívia.

segunda-feira, maio 1

301. Um pouco de Pessoa

«[...]
Eu quem sou para que chore e interrogue?
Eu quem sou para que te fale e te ame?
Eu quem sou para que me perturbe em ver-te?

[...]»

Fragmento de «Ode Marítima», de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.